Iraque: um crime de guerra continuado

Workers World * — 14 Setembro 2008

A administração Bush quer convencer-nos de que controla o Iraque. Depois de ter procedido a uma guerra e a uma ocupação criminosas, de ter morto mais de um milhão de iraquianos, de ter convertido outros 5 milhões em exilados, de ter destruído a infra-estrutura do que fora previamente uma terra próspera e de ter promovido a repartição do território por grupos que se guerreiam, Washington procura agora apoderar-se permanentemente dos frutos da vitória numa guerra efectivamente perdida.

Porque não há dúvida de que o imperialismo norte-americano perdeu a guerra. Apesar da superioridade maciça do armamento norte-americano, apesar da falta de apoio dos países vizinhos, apesar de lhe faltar uma base segura onde possa organizar uma luta política, apesar da dificuldade de estabelecer uma frente de libertação nacional unificada, a resistência iraquiana ergueu uma barreira efectiva aos ocupantes norte-americanos. Não existe um governo fantoche estável que controle o Iraque por conta do imperialismo norte-americano. Desde a década de 1950, os iraquianos têm demonstrado repetidamente que não aceitam a submissão a governos estrangeiros, mesmo ao enfrentarem o exército mais bem armado de todo o mundo. Com notável heroísmo e nas mais difíceis circunstâncias, demonstraram-no agora de novo.

Na verdade, o mundo está em dívida para com o povo iraquiano. A sua resistência não se limitou a defender a honra do Iraque, mas também desmoralizou as tropas terrestres norte-americanas, fez o exército voluntário norte-americano chegar ao limite das suas possibilidades e desencorajou o Pentágono de empreender novas acções que impliquem a captura e a ocupação de território.

Agora as gigantescas companhias petrolíferas sediadas nos Estados Unidos, já com dezenas de milhares de milhões de dólares por ano − a Exxon fez mais de 11 milhares de milhões de dólares no segundo trimestre deste ano − querem concessões privilegiadas a longo prazo para explorar o petróleo do Iraque. O complexo militar-industrial quer prosseguir o seu roubo do Tesouro norte-americano e quer continuar a sustentar um exército fantoche iraquiano. E os generais do Pentágono projectam a edificação de bases norte-americanas permanentes. Washington deseja o estabelecimento de um pacto que torne permanente esta exploração.

Em caso algum a lei internacional admite a legitimidade de qualquer acordo entre uma nação ocupada e o poder ocupante. Em Junho, o primeiro-ministro fantoche, Maliki, aceitou um pacto que poria em vigor todos aqueles acordos funestos. Mas o Parlamento fantoche iraquiano tem protelado a sua ratificação.

Parece que não existe uma maioria consistente de políticos iraquianos, mesmo no regime fantoche, que esteja pronta para entregar os recursos nacionais iraquianos às firmas petrolíferas imperialistas norte-americanas ou para simplesmente alienar a soberania iraquiana. Talvez este facto não nos deva surpreender. Todos sabem que o contingente de 150 mil soldados norte-americanos e de aproximadamente o mesmo número de mercenários − agora chamados «contractors» − terão mais cedo ou mais tarde de deixar o país. Nessa altura os traidores iraquianos não terão quem os proteja e serão muito pouco populares.

Hoje, que a ocupação conta já cinco anos e meio, as notícias do Iraque pouco lugar ocupam nos órgãos de comunicação. Os bombardeamentos tornaram-se menos frequentes e o mesmo sucedeu com as notícias de baixas entre as tropas norte-americanas, em parte porque todos aguardam as mudanças políticas em Washington e na orientação prosseguida pelos Estados Unidos. Já 75% da população norte-americana se opõe à guerra, incluindo a maior parte dos soldados. Mas um crime de guerra continua a ser um crime de guerra, e a administração Bush é tão responsável por ter desencadeado uma guerra de agressão como o foram os chefes nazis em 1939. Ela deve aos iraquianos indemnizações que lhes permitam reconstruir o país e ao mundo deve desculpas pelos seus crimes.

* Editorial do jornal Workers World (workers.org), 27 de Agosto


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