UGT – quem defende, afinal?

Manuel Monteiro — 16 Agosto 2008

Pedro Jorge é operário electricista. Trabalha na Cerâmica Torreense. No dia 28 de Janeiro deste ano, foi ao programa “Prós e Contras” e atreveu-se a denunciar a empresa onde trabalha, porque há anos que não é aumentado (desde 2004) ganhando um salário ilíquido (sem descontos) de 541,2 euros.
A toda-poderosa empresa moveu-lhe um processo disciplinar e, na sua conclusão (agindo como juiz em causa própria), aplicou ao trabalhador uma suspensão de 12 dias. Até aqui tudo certo – ou seja, tudo conforme a lei do quero, posso e mando.

Só que há mais. O secretário-geral da UGT, João Proença, em entrevista ao Correio da Manhã, embora criticando a suspensão do trabalhador, considerou que este fez declarações infelizes. E que declarações infelizes foram? Enganou-se no ano desde o qual não é aumentado – disse no programa que era desde 2003, mas depois, ele próprio, corrigiu, dizendo que era desde 2004. E disse que a empresa estava em boa condição financeira, e os patrões dizem que não – é palavra contra palavra, mas Proença acredita na palavra dos empresários, pudera!)

Quer dizer, por uma questão de pormenores – porque a questão de fundo confirmou-se: o trabalhador não é aumentado há anos – o secretário-geral da UGT vem pôr no mesmo saco trabalhador e empresa, e, na prática, coloca-se do lado dos patrões. Porque, se por um lado crítica a suspensão; por outro acha que o trabalhador prevaricou.
Com defensores destes…


Comentários dos leitores

António da Costa 20/8/2008, 21:42

Para quem não sabe, não é o caso do Manuel Monteiro, a UGT foi criada com um objectivo preciso: ser no movimento sindical um factor de colaboração de classe levar sectores e trabalhadores na ilusão de que é - através do conluio, da submissão ao patronato - possível defender os seus direitos. Não é relevante a personalidade do seu secretário-geral ou presidente, estes dois cargos são repartidos por membros do PS e do PSD. Foram estes dois partidos e a restante direita que instituíram esta central sindical, recorrendo até a sindicatos fantasmas, para servir os interesses do patronato em particular os grandes. Não é por acaso que em muitas empresas o patronato aplica a todos os trabalhadores os contratos celebrados com os sindicatos filiados naquela central, mesmo aos que não são filiados naqueles.

Rui Manuel Martins 23/8/2008, 18:58

A meu ver, e sobretudo num governo que se diz de esquerda, mais grave ainda são os congelamentos dos ordenas dos funcionário públicos. Quando não são congelados são aumentados em ninharias, ultrapassados de forma explosiva pelo custo de vida. Não quero com isto retirar importância ao caso em questão e à classe do proletariado.
A empresa em causa diz-se mal financeiramente, o governo declara crise económica, o certo é que vemos esse mesmo governo a desgovernar-se com planos tecnológicos, maior investimento de sempre nos Jogos Olímpicos, entre outros que tais! Imaginem como viveria o português se não houvesse mesmo dinheiro...


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