A chave é a China

Carlos Simões — 16 Agosto 2008

bushinchina_72dpi.jpgEstes Jogos Olímpicos são muito interessantes em termos políticos. George Bush esteve tranquilamente ao lado da liderança chinesa e fez questão de dizer que assistia ao início dos jogos em “homenagem ao povo chinês.” A atitude dos média é insistir na questão da liberdade de expressão, que é a sua primeira, última e intermédia preocupação. Mas os políticos não estão maçados com a liberalização da China.

Os chineses têm subsidiado a recuperação do dólar, dispondo das suas reservas para aumentar exportações norte-americanas. As exportações para China já ultrapassam as exportações para a Alemanha ou para o Japão. É uma relação ansiosa, a dimensão da China impede aventuras militares, e os chineses têm biliões de reservas em dólares. Com mais de 1,8 biliões de dólares de reservas, a China tem mais reservas que o resto do Extremo Oriente junto, incluindo Japão e Coreia do Sul. Se decidissem converter parte dessa moeda em yen ou euros, era como se o chão se abrisse ao preço do dólar. Mas como isso também se traduziria numa perda do valor das suas reservas, não há motivação para o fazer, senão lentamente. A China é também o principal mercado ascendente, a crescer sem soluços a 9% ao ano, que pode vir a adquirir os bens norte-americanos e onde as empresas norte-americanas têm melhores perspectivas de expansão e lucro.

A China, por seu lado, está a tentar eliminar intermediários. Os contratos assinados com os países africanos, Angola inclusive, garantem acesso directo aos recursos petrolíferos e alimentares de que tem tanta falta, sem necessidade de negociar com o Norte ou as empresas do Norte. O investimento estrangeiro chinês ultrapassa os 20 mil milhões de dólares, um aumento de 10 vezes em 5 anos. A grande aposta é a estabilidade económica e política de África; se se mantiver, pode ser que a China assuma o papel de imperialista regional, porque não se vêem competidores para os chineses.
Sê-lo-á, em todo o caso, num estilo totalmente diferente do Ocidental. Com efeito, a China não tem poderio militar para invadir, conquistar e arrasar; enquanto os EUA se tornaram o maior arsenal do mundo e continua a ser essa a sua principal cartada. Noutro aspecto, os EUA dependem muitíssimo de elites locais para defesa dos seus interesses; ao passo que a China, com 20% da população mundial, não só envia os trabalhadores para as obras que contrata na sua área de influência, como envia as elites que vão defender os seus interesses.

A aliança norte-americana-europeia persiste em forma militar. Se os democratas ganharem a Casa Branca isso pode mudar para incluir o económico e o diplomático. Os republicanos, por seu lado, vão querer estreitar a aliança com a China. A China também tem preferência pelos norte-americanos, senão mesmo pelos Republicanos, contra os japoneses ou os distantes europeus. O que fica em questão é o nível de autonomia que a China vai ter neste processo: será junior partner, ou será que pode mesmo ser o senior partner daqui a uns 30-40 anos?


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