Ossétia-Geórgia-Rússia: imbróglio imperialista made in USA

José Mário Branco — 15 Agosto 2008

ossetia1.jpgNa esteira da queda da União Soviética ocorreram muitas declarações de independência. Quando a Geórgia se tornou independente, os ossetas do sul ficaram em território nacional da Geórgia. Daí resultou uma violenta guerra civil, que terminou com a declaração unilateral de independência pela Ossétia do Sul, no princípio dos anos 90, plebiscitada em 2006 por mais de 95% da população mas nunca reconhecida pelas potências e instâncias internacionais, e muito menos pela Geórgia.

O primeiro presidente da Geórgia, Eduard Shevardnadze, por não ser um alinhado com as potências ocidentais, foi corrido em 2003 por uma “revolução rosa”, semelhante à “revolução laranja” da Ucrânia, imposta pela CIA e por “ONGs” por ela financiadas. O substituto escolhido pelos EUA, Saakashvilli, de imediato re-orientou a política externa georgiana para um estreito relacionamento com a Casa Branca e para a entrada da Geórgia na NATO.

O conflito Ossétia-Geórgia encontrava-se contido e enquadrado por forças de paz russas, georgianas e ossetas, mandatadas pela ONU.

O ataque militar de 8 de Agosto último foi desencadeado por forças armadas georgianas apoiadas pelos EUA e pela NATO, com armas e treino militar fornecidos por Israel. Nos primeiros dias de Agosto, estavam a decorrer exercícios da NATO na região, com participação dos georgianos. Segundo Mike Whitney, da Global Research, “uma operação destas leva meses a ser planeada e preparada; sobretudo para a fazer coincidir com a abertura dos Jogos Olímpicos (outra marca típica dos neoconservadores). Isso quer dizer que os planificadores do Pentágono têm estado a trabalhar lado a lado com os generais georgianos com meses de avanço. Nada foi deixado ao acaso.”

Temos de enquadrar estes factos no cerco que os imperialismos ocidentais, com os EUA à cabeça, estão a fazer à Rússia. Cerco económico, militar e político. A Geórgia é atravessada por oleodutos e gasodutos que vêm da Ásia Central e estão ligados à rede russa de distribuição do petróleo para a Rússia e a Europa Oriental, havendo interesses de grandes companhias (nomeadamente estadunidenses e israelitas) em desviar esse petróleo para a Turquia e, daí, para os portos israelitas do Mediterrâneo e do Mar Vermelho. Os conflitos, supostamente étnicos, da região do Cáucaso (Chechénia, Abekázia, Ingúchia, etc.) estão relacionados com estratégias de acesso ao petróleo. Há quem acrescente o facto de esta região (como o Kosovo-Albânia) se encontrar na rota da heroína que vem do Afeganistão e da Birmânia – não esqueçamos que o tráfico de droga é o terceiro maior negócio do mundo.

A ambição do imperialismo estadunidense de cercar a Rússia, integrando na NATO países da periferia russa, sofreu um revés com esta aventura georgiana: não só as forças políticas da Geórgia vão pensar duas vezes se lhes interessa essa integração, como os parceiros europeus da NATO vão achá-la ainda mais inoportuna do que já acharam numa das últimas reuniões da Aliança. A intromissão da União Europeia (via Sarkozy) como mediadora, mostra como a UE, sempre que os EUA ficam entalados e mal vistos, procura tirar os seus dividendos.

Fica a pergunta de Mike Whitney: “Porque é que Saakashvilli embarcou numa aventura militar insensata, sem qualquer hipótese de vencer? A Rússia tem um poder de fogo incomensuravelmente maior e tem levado a cabo manobras militares que antecipavam o cenário actual. O Tio Sam deseja realmente uma guerra desfavorável, ou serão os combates na Ossétia do Sul uma mera diversão de uma outra guerra em preparação no Estreito de Ormuz [Irão, Golfo Pérsico]?”

Sejam quais forem as razões de mais uma guerra indirecta e cínica entre potências, são os povos que veem espezinhados os seus direitos e destruídas as suas vidas: várias cidades da Ossétia do Sul reduzidas a escombros pelos bombardeiros georgianos, igrejas incendiadas onde se refugiavam civis. Saldo até agora: centenas de georgianos mortos, milhares de ossetas mortos, centenas de milhares de refugiados dos dois lados.


Comentários dos leitores

salvoconduto 15/8/2008, 18:57

Na Geórgia vive o "louco do caucaso", nos EUA vive um louco maior.


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar