Acordo PS/BE em Lisboa começa a dar resultados

Manuel Monteiro / Manuel Raposo — 27 Julho 2008

ozefazfalta.jpgA organização concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda criticou, em comunicado de 24 de Julho, o vereador Sá Fernandes, eleito por esta força política para a Câmara Municipal de Lisboa, por “ter perdido a oportunidade de proceder à fusão da Gebalis com a EPUL, uma das vinte medidas prioritárias do programa Lisboa é Gente” com que o BE se candidatou à autarquia. Estas críticas devem-se ao facto de Sá Fernandes, à revelia do programa do Bloco, ter alinhado com o PS na votação da alteração estatutária da EPUL, aprovada na reunião da Câmara na última quarta-feira.

A concelhia lamenta que o vereador Sá Fernandes não tenha aproveitado a oportunidade para propor a fusão da Gebalis com a EPUL, “no cumprimento do programa eleitoral” e lembra que esta proposta estava “expressa no texto do chamado acordo de Lisboa com o PS”. A estrutura partidária do BE acusa o vereador Sá Fernandes de se remeter a “um mero voto seguidista” na aprovação da proposta do PS.

Este facto mostra que Sá Fernandes funciona cada vez mais em roda livre, respeitando ou desrespeitando o programa do BE que sustentou a sua candidatura conforme isso convém ou não ao entendimento com o PS. Aliás, esse era um resultado previsível do acordo estabelecido com o PS, não tanto pela pessoa de Sá Fernandes mas pela própria natureza do acordo.

Com efeito, as ambiciosas medidas da candidatura do BE (alterar o sistema de transportes, reformular o ordenamento urbanístico da cidade, intervir nos preços da construção, pôr travões à especulação fundiária, impor quotas para habitação de baixos custos) não tinham por trás uma efectiva força política que as impusesse. À falta dessa força, o Bloco pensou que conseguia, através do acordo, amarrar o PS a compromissos, fornecendo em troca um dos votos de que António Costa precisava para forjar maiorias. Ora, vê-se agora quem detém a efectiva força política e quem é amarrado pelo acordo.

A concelhia de Lisboa do Bloco acorda tarde para a situação – só quando Sá Fernandes renega o próprio programa à descarada é que clama aqui d’el rei. E nem sequer tira as devidas consequências do episódio, uma vez que o lado político da questão é passado inteiramente em claro, como se tudo estivesse bem menos o comportamento do vereador Sá Fernandes.

Na verdade, a crítica a Sá Fernandes fica-se praticamente pelo plano técnico da questão e resume-se a lamentar a “oportunidade perdida” de levar a cabo a “reorganização do sector empresarial do município”… Muito para além disso, bastaria comparar as medidas preconizadas no programa do BE para Lisboa com aquilo que foi feito pelo vereador do Bloco ao abrigo do acordo com o PS para se ver o abismo entre os propósitos e a realidade.

O que fica à vista neste episódio é o resultado de o Bloco ter trocado a oposição pela situação. E, neste sentido, é interessante enquadrar o facto numa questão mais ampla, que é esta: a política de alianças do BE com o Partido Socialista, ou com a “esquerda” do Partido Socialista, tenderá sempre a escapar ao controlo do Bloco. O que se passa agora com Sá Fernandes passar-se-á mais tarde, se as coisas chegarem a tal ponto, com toda a rede que começou a ser tecida por ocasião do comício com Manuel Alegre.


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