Escutas “democratizadas”
Carlos Completo — 24 Julho 2008
Jorge Bacelar Gouveia, presidente do Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República Portuguesa (CFSIRP), diz que é indispensável que as polícias secretas recorram a escutas telefónicas, como uma forma de “adequar” os serviços de informações “às novas ameaças e novas realidades” resultantes do 11 de Setembro nos EUA. E afirma não acreditar que no passado, em Portugal, se tenha recorrido a esses meios (de escuta) ilegalmente. Quem ousa duvidar da palavra do senhor presidente? Os vários casos de escutas que ao longo dos anos têm vindo a público (além dos outros que não se conhecem) certamente que são produto de mentes doentias ou subversivas!
Na entrevista recentemente concedida à agência Lusa, Bacelar Gouveia sugere também, para que tudo apareça como legal, que o problema das escutas telefónicas seja discutido na próxima revisão constitucional.
Diz ele: “Podemos discutir estes assuntos e convencer os cidadãos de que as escutas telefónicas devidamente controladas são um meio inestimável de aumentar a eficácia dos serviços e de proteger a segurança dos cidadãos” E acrescenta ainda que é necessária “uma colaboração mais próxima” dos serviços de informações militares “com o SIED e até com o SIS”.
Como diz o povo, quem fala assim não é gago. Se os partidos “responsáveis” conseguirem convencer os cidadãos que ser escutado é melhor para a sua “segurança”, as coisas ficam mais fáceis para as polícias. Pelo menos, de vez em quando, já não será necessário negar perante a chamada opinião pública que tais escutas tenham acontecido, pois as escutas estarão “democratizadas”.
Depois desta firme convicção expressa pelo reputado constitucionalista, membro do PSD e presidente do CFSIRP, quem ainda pode duvidar que estamos em “boas mãos” no que respeita à fiscalização das “secretas” e à defesa dos nossos direitos?