Consumam menos, diz o FMI

Manuel Raposo — 20 Julho 2008

vendacasas_72dpi.jpgA três meses apenas da apresentação pelo governo do orçamento de Estado para 2009, o FMI recomenda “aos portugueses”, em relatório agora publicado, que façam mais poupança e reduzam o consumo, de modo a poder prosseguir a consolidação das contas do Estado e a redução do défice externo. Trata-se evidentemente de uma indicação dada ao governo de Sócrates no sentido de continuar o aperto de cinto que tem imposto aos assalariados.

Para além deste conselho geral de redução do consumo – mais ainda do que ele já quebrou – o FMI dá mesmo ao governo a indicação de que deve “manter sob controlo” os salários dos funcionários públicos, o que significa mantê-los com um crescimento abaixo da inflação, prolongando deste modo a perda de poder de compra verificada praticamente desde há uma década.
Alertando para o aumento do endividamento externo, que se aproxima de 100% do PIB, o FMI não deixa margem para dúvidas sobre quem deve ser sacrificado. Embora recomendando moderação “a todos os sectores”, são o consumo das famílias e as despesas do Estado (naturalmente as de natureza social e os salários) que terão de ser reduzidos para que “a economia” (ou seja o investimento capitalista) não fique tão dependente do crédito estrangeiro.

Estas “recomendações”, para além do aviso que representam para o próximo orçamento do Estado, acontecem numa altura em que todos os indicadores económicos mostram uma acentuada quebra do nível de vida da população que depende de salários. De acordo com dados que acabam de ser divulgados pelo INE, em Maio os gastos das famílias em bens correntes e duradouros voltou a descer. A actividade económica em todos os sectores teve “uma forte desaceleração”. A inflação continua em crescimento e o desemprego mantém-se em níveis elevados. E o “nível de confiança” dos consumidores está tão baixo como em Maio de 2003, quando o país atravessava uma recessão.

Outros dados informam de que sobem em flecha as penhoras de habitações, sinal inequívoco de falta de dinheiro das famílias para corresponderem aos compromissos que assumiram com a banca. Informações fornecidas por empresas de leilões imobiliários dizem que nos primeiros seis meses do ano foram postas a leilão cerca de mil casas de que os bancos se apropriaram, o dobro do que foi leiloado em igual período do ano passado. Que não se trata de casas de gente rica fica a saber-se pelo facto de a maioria delas se situar nas periferias das grandes cidades. E como, normalmente, as famílias só abdicam da casa depois de terem comprimido ao mínimo tolerável todas as outras despesas – vestuário, alimentação, saúde, diversões… – as execuções de hipotecas revelam por regra acentuadas quebras de condições de vida.

Sobre este panorama de degradação, os papas do capitalismo internacional reunidos no FMI vêm dizer que a solução é a maioria da população portuguesa viver ainda pior. Valha a clareza de mostrarem como, e à custa de quem, o capitalismo ultrapassa as crises.


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar