Eleitoralismo incompetente

M. Gouveia — 5 Julho 2008

Na entrevista à TVI de Manuela Ferreira Leite ouvimos algumas afirmações sobre a homossexualidade que são um exemplo do que é uma má jogada eleitoralista: tentar disfarçar o reaccionarismo com argumentos incompetentes. Não só desmascara o reaccionarismo como revela a incompetência.

“São opções de cada um, é um problema de liberdade individual, sobre a qual não me pronuncio.” A homossexualidade não é uma opção é uma orientação sexual. Não se escolhe ser homossexual.

“Pronuncio-me, sim, sobre o tentar atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas do mesmo sexo igualmente ao estatuto de pessoas de sexo diferente”.“Admito que esteja a fazer uma discriminação porque é uma situação que não é igual”. A Constituição da República Portuguesa proíbe explicitamente a discriminação com base na orientação sexual desde 2004. A revisão do artigo 13º (Princípio da Igualdade) fez-se com os votos favoráveis do PSD.

“A sociedade está organizada e tem determinado tipo de privilégios, tem determinado tipo de regalias e de medidas fiscais no sentido de promover a família, explicando que essas medidas eram no sentido de que a família tem por objectivo a procriação”. A Lei de Uniões de Facto de 2001 abrange casais de pessoas do mesmo sexo e concede o mesmo estatuto fiscal a uniões de facto e a cônjuges, pelo que as famílias constituídas por casais de pessoas do mesmo sexo já usufruem das referidas medidas fiscais.

“A família tem por objectivo a procriação”. Então os casais heterossexuais inférteis, ou que não querem ter filhos ou que já passaram a idade fértil não podem casar?
Quando tudo fazem para ganhar votos, às vezes baralham-se…


Comentários dos leitores

martins 7/7/2008, 8:56

Em relação à homossexualidade é uma opção, uma tendência e um gosto.
Esta classe tem todo o direito a defender os seus interesses, como sejam o direito à não discriminação no trabalho e na sociedade.
Agora em relação ao casamento já tenho as minhas dúvidas se do ponto de vista genético dois homens ou duas mulheres devam casar.
A questão da homossexualidade é defendida pela Esquerda mais pelo o Bloco de Esquerda como bandeira política e fazem disso cavalo de batalha para ganhar votos dos homossexuais e lésbicas.
A Esquerda está contra a discriminação dos homossexuais no trabalho ou na sociedade.
A Direita mais moralista e dos valores da família e da religião é contra mas também aceita os votos dos homossexuais ricos por que os há em todos os partidos.
É moderno defender os direitos dos homossexuais, mas não deixa de ser um conceito burguês a homossexualidade de homens e mulheres.
Pela minha parte não discrimino mas também não apoio e sou contra que se faça apologia dessa classe.

Vladimiro Guinot 12/7/2008, 1:43

Caro Martins, é seu o direito de ser a favor ou contra o casamento homossexual, respeito-o.
Ainda assim, entendo que o casamento não passa de um contrato formal que reconhece a união de facto entre duas pessoas que se estabeleceu serem de sexos diferentes.
Como de um contrato se trata, ainda por cima voluntário, não vejo porque razão duas pessoas do mesmo sexo não possam celebrar contrato semelhante. A oposição a essa probabilidade é que me parece um conceito burguês e profundamente enraizado em preconceitos religiosos.
Não tem razão quando afirma que: "a homossexualidade de homens e mulheres é um conceito burguês". A homossexualidade existe em todas as classes sociais, desde o proletariado mais empobrecido até à burguesia mais endinheirada. A ciência já se encarregou de esclarecer que a homossexualidade não é, sobretudo, uma questão de opção mas sim uma tendência ditada pelos genes.
Por fim, é errada a classificação dos homossexuais como uma classe, tal como, tanto os homens como as mulheres, não o são. Quando falamos de classes na sociedade entendemo-las como classes sociais claramente definidas como, por exemplo, proletariado e burguesia. A tendência para criar novos conceitos de classe tem origem na classe dominante, a burguesia, que assim pretende esbater os contornos do antagonismo que de facto existe entre explorados e exploradores. Atente-se na frequência com que os meios da comunicação social fazem referência à classe média, classe média alta e classe média baixa, etc... O que significa isto? significa que, classe média, vai desde os operários menos mal pagos até aos pequenos e médios patrões e quadros médios e superiores de pequenas e médias empresas ou da função pública. Lógico será concluir que, se pertencemos todos à mesma classe, não existe razão para antagonismos. Está o Martins a compreender a táctica?
Mas o tema não é este e para concluir quero dizer que a defesa dos direitos dos homossexuais também não é uma questão de modernidade. É uma questão que passa pela defesa do direito a ser diferente sem que, por se ser diferente, traga mal à comunidade.
Vladimiro Guinot


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