O mundo editorial em guerra

Pedro Acabado — 18 Maio 2008

feiradolivro_72dpi.jpgAssiste-se na área editorial a uma guerra que tem como base a concentração das editoras em dois grandes grupos: a Leya, liderada pelo empresário Miguel Paes do Amaral; e o Círculo de Leitores, do consórcio alemão DirectGroup Bertelsmann. Os conflitos reflectem-se nas duas associações de livreiros: a União de Editores e Livreiros (UEP) e a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).

Constituído em Outubro 1971, o Círculo de Leitores é o maior clube de livros do país, com cerca de 340 mil sócios e um volume anual de vendas entre 33 e 35 milhões de euros (valores de 2006). O grupo Leya, criado no início do corrente ano, integra já dez editoras portuguesas e duas angolanas e tornou-se rapidamente o primeiro grupo editorial português. Entre os seus alvos estão os mercados africanos e brasileiro e o imenso filão constituído pelos livros escolares.

A disputa mais recente, e mais visível, trava-se à volta da Feira do Livro de Lisboa, todos os anos organizada pela APEL em Maio-Junho. Este ano a UEP não quer aceitar as normas seguidas em anos anteriores, sobretudo a que impõe que todas as editoras tenham stands uniformes.

Na sua ofensiva sobre o mercado, a Leya pretende destacar-se com stands de luxo, para abafar as pequenas e médias editoras. Esta jogada conta com a cumplicidade do Director da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, que tudo tem feito para que a Leya se possa instalar na feira de maneira diferente das outras editoras.

Entretanto, levantaram-se algumas vozes de discordância. A Gradiva abandonou há dias (15 de Maio) a UEP, acusando-a de defender apenas os interesses do grupo Leya, em detrimento das outras pequenas editoras, que também são sócias da UEP. O escritor Lobo Antunes, cujas obras são publicadas por uma editora do grupo, declarou: “Se a Leya não for à Feira do Livro terá problemas comigo”. Neste mesmo sentido se pronunciaram Mário de Carvalho e Gonçalo M. Tavares, também eles editados pelo grupo de Paes do Amaral. Veremos se mais vozes de protesto se farão ouvir contra a prepotência dos grandes grupos editoriais.

Em desfecho do braço-de-ferro, a Câmara Municipal de Lisboa cedeu em toda a linha, “obrigando” a APEL a aceitar as exigências postas pela Leya: a instalação de stands diferenciados e em zona privilegiada do Parque Eduardo VII, no topo ou na base, ostensivamente separados dos das outras editoras. Com todas estas imposições dos mais poderosos, a Feira do Livro não tem ainda data para abrir. Mas quem não perde tempo é o grupo Leya: sentindo as costas quentes, começou já a instalar os seus pavilhões diferenciados.


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