Imprensa operária e de bairros

João Bernardo — 26 Abril 2008

Tanto quanto sei, não foi ainda realizada nenhuma pesquisa sistemática acerca da imprensa operária em 1974-1975. Folheando um jornal em que colaborei naquela época, e que se dedicava exclusivamente a noticiar as lutas dos trabalhadores, encontrei logo em Junho de 1974 menções a A Nossa Voz (quinzenário dos trabalhadores da Timex), O Novo Portuário (boletim dos trabalhadores do porto de Lisboa), A Força Operária (jornal de operários de lanifícios e têxteis), O Trabalhador de Tróia e o Jornal da Sogantal, uma pequena empresa que se notabilizou por ter sido a primeira a entrar em autogestão.

Em Julho de 1974 deparo com a primeira referência ao Jornal da Greve dos Trabalhadores da Efacec-Inel, que nessa altura era diário, e que em seguida passou a intitular-se Jornal da Greve (Suspensa) dos Trabalhadores da Efacec-Inel-Lisboa. A longevidade deste jornal deve ser um caso raro, se não mesmo único, na imprensa operária mundial, porque continuava a publicar-se dois anos depois, e em 8 de Julho de 1976 saía o nº 85, que creio não ter sido o último.

Ainda em Julho de 1974 vejo citados o Voz do Estaleiro (boletim dos operários da Lisnave), o Jornal dos Operários e Grevistas da Mabor e o Jornal do Soldado. Em Setembro de 1974 encontro menções ao Jornal da Greve dos Operários da «Soares da Costa» e ao Jornal da Greve no GPA (Gabinete de Planeamento e Arquitectura).

Em Dezembro de 1974 saíram o primeiro número do Caixa Alta (jornal de jornalistas) e um órgão de bairro, A Voz do Casal Ventoso (um bairro pobre de Lisboa). Por seu lado, o Ecos do Catujal (jornal dos bairros dessa região de Loures) publicava o nº 5 em Janeiro de 1975. No mesmo mês saía o nº 4 de A Fornalha (trabalhadores da Siderurgia Nacional) e também em Janeiro de 1975 foi publicado o Trabalhadores em Luta (folha informativa das reuniões de trabalhadores interempresas).

O Boletim da Comissão de Moradores de Massarelos (no município do Porto) publicou o nº 2 em Março de 1975 e em Dezembro desse ano saía o nº 7. O Soldados em Luta (soldados do RASP) surgiu em Outubro de 1975 e em Novembro apareceu A Nossa Luta (Associação de Moradores Parceria-Antunes, no Porto).

O golpe militar de direita ocorrido em 25 de Novembro de 1975 não pôs imediatamente cobro à vitalidade desta imprensa, porque em Janeiro de 1976 foi publicado o primeiro número de A Voz do Torrão (Comissão de Moradores do Bairro do Torrão, no Porto), em Março o primeiro número de União do Povo (boletim da Associação de Moradores da Bela Vista, no Porto) e em Junho o primeiro número de Despertar (Associação de Moradores de Presa-Velha/Formiga). Ainda numa data tardia como Outubro de 1976 vejo citado o nº 2 de O Estaleiro (trabalhadores da Lisnave).


Comentários dos leitores

Rodolfo 16/5/2008, 15:28

João Bernardo por que vc não escreveu nenhum livro específico sobre a Revolução dos Cravos?

João Bernardo 22/5/2008, 19:44

Caro Rodolfo
Durante esse período participei num jornal chamado Combate, publicado de 1974 até 1978. Tudo o que eu poderia ter escrito sobre o assunto está nos editoriais colectivos desse jornal, e muito do que aprendi está na montanha de entrevistas que realizámos.

Rita Almeida de Carvalho 22/7/2009, 11:30

A respeito da imprensa operária e muita outra, veja o seguinte link
http://www.ics.ul.pt/ahsocial/
A colecção António Costa Pinto, oferecida ao Arquivo de História Social, tem um enorme volume de imprensa operária e dos movimentos de extrema-esquerda. O inventário desta documentação é disponibilizado à medida que a mesma vai sendo descrita.


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