Quase mil operários despedidos em empresas de alta tecnologia

Pedro Goulart — 9 Abril 2008

yazaki_aveiro_72dpi.jpgContinua a onda de encerramentos e deslocalizações. As multinacionais chegam, recebem facilidades e subsídios e exploram o que podem. Depois, abalam e vão explorar para outras paragens. Quase um milhar de trabalhadores para a rua é o que prometem a Delphi e a Yasaki.

A Delphi, multinacional de origem norte-americana, empresa de tecnologia electrónica móvel, prepara-se para encerrar mais uma unidade de produção em Portugal – a unidade de Ponte de Sor (Portalegre). Sabe-se que parte dessa produção será, de futuro, efectuada na Hungria. E, segundo o delegado sindical dos Trabalhadores da Indústria Química (Sinquifa), o encerramento previsto para o 1º trimestre de 2009 colocará cerca de 500 trabalhadores no desemprego.

Também a Yasaki Saltano, de Vila Nova de Gaia, líder mundial na produção de componentes eléctricas para automóveis, vai deslocalizar parte da produção para Marrocos atirando 400 trabalhadores para o desemprego. A Yasaki mantém actualmente em Portugal duas fábricas e um centro técnico, empregando mais de 2000 trabalhadores. Segundo o Sindicato da Indústria e da Energia (Sindel), a empresa justifica os despedimentos com a situação financeira e a “concorrência internacional no sector de cablagens de automóveis”.

Tratando-se de empresas de alta tecnologia e alta produtividade, fica uma vez mais desmentida a ideia de que o problema reside na falta de “modernização” da indústria em Portugal. Como fica desmentida a ideia de que tudo se resolverá com mais formação, melhorias tecnológicas, e outros argumentos do género que o governo e o patronato usam de forma sistemática. O mesmo se pode dizer da insistência das organizações sindicais na necessidade de um patronato “mais esclarecido” e outras coisa vazias de sentido.

O exemplo presente permite-nos, com efeito, contrariar essa ideia. A divisão internacional do trabalho que o capital promove à escala mundial é que determina estas deslocalizações – não o “esclarecimento” ou a “modernidade” dos capitalistas em Portugal. De resto, quem mais esclarecido e moderno que as empresas multinacionais?

No conjunto, são quase mil trabalhadores que vão parar ao desemprego. Destes, apenas 100 têm promessa de emprego, não no seu sector mas como empregados de actividade comercial, no grupo Jerónimo Martins.
Este paliativo – que o líder do PSD se apressou a anunciar, na sua dupla qualidade de presidente da Câmara Municipal de Gaia e de concorrente a primeiro-ministro – não esconde nem a degradação efectiva da força de trabalho nem o facto de nove décimos dos despedidos ficarem no desemprego.


Comentários dos leitores

José Trindade 11/4/2008, 15:11

A escola do "capital humano" parece estar a entrar em bancarrota e verificou-se que criar mão-de-obra qualificada não é o mesmo que criar um capital capaz de fazer uso da mesma. A oferta não cria a procura e assim se vai a esperança de conseguir o desenvolvimento capitalista do país através do esforço de investimento público na educação. Afinal, metade das empresas portuguesas continuam a ter menos de 5 empregados e uma capacidade de investir e inovar a condizer. Quando se lhes dão "doutores", elas põem-nos a bater texto ao computador ou a fazerem atendimento ao público.


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