A reconstrução do sindicalismo brasileiro

Paulo Marques, professor e dirigente sindical — 15 Março 2008

sindicatosbrasil.JPGNo Brasil, o Partido dos Trabalhadores, de Lula, representa a elite de capitalistas sindicais que está a colonizar o aparelho do Estado com seus quadros gestoriais, convertendo-se em poderosa máquina de gestão da crise capitalista a serviço das grandes empresas. O golpe foi justamente colocar no poder a burocracia sindical, que ascendeu através da luta popular contra as reformas neoliberais, para continuar e radicalizar tais reformas. O PT, a CUT (Central Única dos Trabalhadores), e outras centrais sindicais, viraram os cães de guarda do Capital, ao congelar as lutas dos trabalhadores, com seu sindicalismo burocrático, assistencialista e reformista.

Neste momento, evoca-se muito a tese de que as esquerdas sofrem uma “crise de direção”. Logo, as esquerdas se reorganizam e vão derrubando as direções traidoras da cúpula dos sindicatos. Entretanto, é muito comum que apenas se substitua uma direção à outra, sem mudar as estruturas sindicais, e continuam com as mesmas práticas da direção anterior. Ocorre que os aparelhos sindicais atuais, que se tornaram verdadeiras empresas, não servem à luta dos trabalhadores. Seria preciso transformar completamente suas estruturas. Então, a discussão abre outro caminho, o da reconstrução sindical. Mas o que significa reconstruir os sindicatos?

A burocratização dos sindicatos passa por várias fases. De início, numa luta de bases forte, surgem delegados sindicais de base. Depois, conforme o aparato se institucionaliza, convertem-se em dirigentes, ainda combativos, mas já com vícios burocráticos. À medida que estes se desligam da base, passando a ser profissionais da luta que não mais trabalham, tornam-se burocratas sindicais e passam a viver de imposto sindical, se tornando gestores do capital variável (força de trabalho). Por fim, quando estas empresas sindicais controlam ações e fundos de pensão, passam de burocratas a capitalistas sindicais, que se associam aos patrões para se apropriar de parte da mais-valia extraída dos trabalhadores. Todo este processo ocorre à medida que as lutas na base se enfraquecem, o Capital se recompõe e fragmenta os trabalhadores, os re-enquadrando à sua disciplina produtiva. O movimento desaparece, permanecem as instituições burocráticas.

Logo, o problema só pode ser resolvido combatendo a passividade das bases: a recomposição do movimento. Isto implica uma nova estrutura sindical que seja assentada totalmente na formação de núcleos organizados nos locais de trabalho. As bases devem controlar as ações dos dirigentes, limitar suas reeleições, evitar sua profissionalização e privilégios comuns do afastamento do trabalho, instituir mecanismos de controle transparente das finanças das entidades, a rotatividade dos cargos e poder revogar a qualquer momento os mandatos. É preciso superar a divisão entre os que decidem e os que executam, e impedir que o foco se desvie da luta direta de base para fins parlamentares, trampolim para toda sorte de oportunismos e reformismos que só atrasam a luta.

A atuação com as bases pode se dar muito mais a partir de programas práticos, elaborados através do diálogo e aplicação de pesquisas com os trabalhadores, sobre seus anseios e condições de vida, do que a prática de grupelhos vanguardistas, que com seus disputismos ideológicos, acabam por afastar os trabalhadores e agravar a passividade. No Brasil, há sindicatos que até possuem tavernas em suas instalações, onde os trabalhadores desenvolvem atividades culturais e debates políticos diversos.

A reconstrução sindical é um problema de estruturas, práticas e formas de organização. O sindicato deve procurar ser em seu interior a própria sociedade que defendemos: o socialismo. A luta contra o capitalismo começa na luta contra as empresas sindicais, seus gestores, e as relações mercantis, no interior dos sindicatos.


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