A “ética” e o lucro
Pedro Goulart — 15 Março 2008
Da Carta Reivindicativa aprovada no XI Congresso da CGTP fazem parte, entre outras exigências, a revogação das normas gravosas do actual Código do Trabalho e a rejeição da flexi-segurança contida na proposta do Livro Branco das Relações Laborais; a defesa da contratação colectiva e das convenções colectivas; o combate à precariedade de emprego e ao desemprego; a promoção da igualdade no trabalho, com combate a todas as discriminações; a melhoria da Segurança Social; o investimento na Educação Pública e no Serviço Nacional de Saúde.
Estas justas reivindicações, contudo, dificilmente se harmonizam com algumas das afirmações feitas no Congresso, nomeadamente no discurso de Carvalho da Silva, que pressupõem colaboração de classes e que podem alimentar ilusões em muitos trabalhadores.
Por exemplo, quando faz a “exigência do poder com ética”; ou quando estranha que o governo “assuma uma matriz de esquerda no seu discurso com os portugueses” e ao mesmo tempo coloque nas mãos do patronato normas “que lhe permitem fazer cessar uma convenção”; ou ainda quando “desafia” o patronato a “assumir as suas responsabilidades” e a “não usar a legislação do trabalho como bode expiatório”.
Qual será a ética do poder (governo) do capital, ou a responsabilidade do patronato que não aponte para a obtenção do máximo lucro e da máxima acumulação?
Comentários dos leitores
•Paulo Marques 18/3/2008, 4:25
Qual ética é possível dentro da estrutura capitalista de poder? Qual ética é possível no modo de produção capitalista? Será possível "reduzir os lucros" ou "valorizar o ser humano" num sistema cujo único objetivo é o fim-em-si-mesmo de gerar valor?
Ora, a função do Estado e dos gestores é essa mesma. Não convém esperar outra coisa deles...