Agora: Sócrates

12 Março 2008

“Compreendo perfeitamente as razões do descontentamento dos professores”, disse a ministra da Educação em resposta à gigantesca manifestação de dia 8. Compreende, mas não se demite. A contradição é só aparente: o que assim fica dito é que o ministério – melhor, o governo – vai travar um braço de ferro para quebrar as pernas ao protesto. Sócrates tentará com isso dar uma punição exemplar ao movimento popular de oposição à sua política e calá-lo por longo tempo.

A derrota que foi a demissão do ministro da Saúde não vai o chefe do governo querer que se repita agora com a Educação. Seria a demonstração de que a sua linha de afrontamento das classes trabalhadoras podia ser partida em bocados e, em limite, bloqueada pela acção de rua. A luta está pois colocada já no plano do confronto do governo com o movimento popular.

O mútuo apoio entre os diferentes sectores de trabalhadores é por isso, mais do que nunca, decisivo nos próximos meses. Se a luta dos professores ficar isolada, pode o governo perfeitamente ganhar a parada; mas se tiver o apoio dos demais trabalhadores (como podia ter sucedido já na manifestação) tem condições para vencer. E o mesmo é válido para as demais lutas.

Depois da greve geral, da enorme manifestação de 18 de Outubro e do impulso agora dado pelos professores, o movimento não tem outro caminho senão o de se reforçar e de ganhar a consciência de que o alvo é Sócrates. Há que fazer convergir todo o descontentamento para o objectivo de travar a política do governo e correr com Sócrates.

A greve dos funcionários públicos a 14 de Março e a jornada de luta dos jovens contra o trabalho precário, a 28, devem inspirar-se no exemplo de unidade que acaba de ser dado e contribuírem para impulsionar a luta de todos nós para um nível mais alto. O governo pode ser derrotado pela acção na rua.


Comentários dos leitores

José Trindade 12/3/2008, 11:30

É costume dizer-se, pelo menos nos meios libertários, que "não basta mudar as moscas" e, caindo Sócrates, tomará o seu lugar Meneses com a sua política ultra-neoliberal do "Estado mínimo".
O capital, face a face com a crise mais grave das últimas décadas, necessita ABSOLUTAMENTE de atacar os trabalhadores, precarizá-los e reduzir ao mínimo a massa salarial como forma de aumentar a sua rentabilidade. Essa necessidade é particularmente premente num país atrasado como Portugal, onde o patronato vai buscar à hiper-exploração dos trabalhadores aquilo que lhe falta em produtividade. Por isso, mesmo que os governos mudem, as políticas permanecerão as mesmas, porque são as politicas de que o capital necessita para sobreviver.
Há muita gente a falar em fazer cair o Sócrates, mesmo nos círculos libertários, mas será que queremos seguir as pisadas dos sindicatos ingleses em 79, que fizeram cair o governo de Callaghan só para acabarem com Tatcher a tomar o seu lugar? A crise social não se pode resolver dentro dos ministérios e não há varinha de condão política que resolva os males do país e do mundo.
O problema é o capitalismo. Acaba-se com o problema acabando-se com o capitalismo e dizê-lo alto e bom som não é ser-se extremista: é ser-se realista. O tempo em que o sistema podia ser reformado já acabou.

Alexandre Leite 12/3/2008, 21:32

"O governo pode ser derrotado pela acção na rua." Pode sim senhor. E isso já esteve mais longe.
Mas, e depois?

mariahenriques 7/3/2010, 7:21

Sempre ouvi dizer que quem tem bom sentido de humor nunca se deixa abater. E Sócrates, quer se goste ou não se goste dele tem excelente sentido de humor.
http://apombalivre.blogspot.com/2010/03/com-o-espirito-e-o-bom-humor-de.html


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