Kosovo: nação soberana ou base político-militar do imperialismo?

Manuel Monteiro — 4 Março 2008

kosovo_cartoon_72dpi.jpgDefendo que os povos são soberanos para definirem os seus destinos, mas o que se passa nos Balcãs não é uma expressão genuína da vontade popular. Trata-se, antes, de manobras do imperialismo norte-americano e europeu para imporem as suas estratégias de domínio sobre os povos.

Primeiro, foi a desagregação da Jugoslávia, sob o comando de norte-americanos e alemães, explorando os nacionalismos mais reaccionários, para conseguirem zonas de influência. Recorreram para isso à escumalha mais abjecta de dirigentes fascistas e nazis que, explorando as contradições no seio dos povos balcânicos, os conseguiram arregimentar para uma luta fratricida. No fim, esses mesmos dirigentes, bastantes deles chefes do crime organizado, tomaram conta do poder e implantaram o capitalismo mais selvagem, com as máfias a dominarem quase todos os sectores da sociedade. É esta a democracia que os povos sentem na pele: enriquecimento brutal de uma minoria; miséria para os trabalhadores.

Depois, a pretexto de um nunca provado genocídio, bombardeiam a Sérvia e invadem o Kosovo. Aqui com a prestimosa colaboração dos governos cá do burgo, que têm mandado tropas invasoras para o Kosovo.

A NATO, o braço armado do imperialismo norte-americano, e dos seus lacaios europeus – Alemanha, França, Reino Unido, Itália – encontrou nesta questão do Kosovo uma forma muito hábil de afrontar a Rússia, porque se baseia nas aspirações de um povo a ser livre e nas contradições dos kosovares albaneses com os sérvios.

Mas sejamos claros: o que se prepara com esta pseudo independência não é a libertação de um povo, mas a apropriação de um território, onde impera o crime organizado, para aí o imperialismo instalar as suas bases. Com duas finalidades: primeira, reforçar a sua posição de polícia dos povos e exploração das suas riquezas; segunda, ganhar terreno na disputa que trava com a Rússia por zonas de influência.

Duas notas finais. A burguesia está articulada a nível mundial por um organismo chamado ONU. É neste organismo que se discutem e votam as novas independências. Porque não sucedeu assim desta vez? Porque prevalece a posição unilateral dos dirigentes mafiosos do Kosovo? Porque o núcleo do imperialismo norte-americano e europeu assim o quer, passando por cima das normas que eles próprios aprovaram.

Este processo não acaba aqui. O passo seguinte é a anexação do Kosovo pela Albânia, sob os auspícios dos norte-americanos e dos alemães, pois não são eles que já começaram a dizer que o Kosovo não tem condições económicas para ser independente? A verificar-se isto nem de uma independência formal se tratou, mas de um roubo de território de uma nação soberana para o anexar a outro país.

Termino como comecei. Defendo a vontade soberana dos povos a escolherem a forma como querem viver. Não foi este o caso. O povo serviu aqui, como em tantas vezes mais, de carne para canhão do crime organizado e dos desígnios do imperialismo.


Comentários dos leitores

Gregório Trindade Curto 5/3/2008, 1:15

Sobre os desígnios imperialistas nos balcãs, concordo com Manuel Monteiro. Mas quando ele se refere às contradições existentes entre os kosovares albaneses e os sérvios é que eu me interrogo: qual a natureza das contradições? de que tipo poderão ser essas contradições, quando esses povos conseguiram viver em comunhão, enquanto Jugoslávia, durante largas décadas? A meu ver, as diferentes religiões professadas no seio desses povos, assim como as diferentes etnias, não impediu que eles conseguissem viver em paz e em comunhão social. Esta questão, a das contradições entre os povos - religiosas, étnicas, etc. - pode constituir matéria para um importante debate que nos levasse a compreender as verdadeiras razões das guerras fraticidas que por esse mundo fora existem.
Poderíamos começar por perguntar se entre trabalhadores que professam religião diferente ou se são de regiões geográficas diferentes, e que trabalham numa mesma fábrica ou empresa, terão razões para lutarem entre si? poderíamos perguntar o que é que os pode unir e o que os pode dividir. Enfim, são sugestões.
Gregório Curto


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