Um italiano preso político no Brasil

João Bernardo — 29 Fevereiro 2008

cesarebattisti_72dpi.jpgChamámos a atenção no Mudar de Vida (notícia de 20 de Janeiro de 2008 no site e na pág. 12 do nº 5 do jornal) para o caso do militante anticapitalista italiano Cesare Battisti, cuja extradição o governo italiano tem vindo a reclamar desde 1990.
Em Março de 2007 Battisti foi detido no Rio de Janeiro e levado para o presídio comum do Distrito Federal (Brasília) onde os carcereiros, segundo relata a revista Piauí, além de o insultarem, o agrediram à joelhada e ao pontapé e lhe cuspiram em cima. Depois de ter denunciado esta situação ao Supremo Tribunal Federal, Battisti foi transferido para o cárcere da Polícia Federal, também em Brasília, e embora parassem as agressões, foi-lhe concedida apenas uma visita semanal, durante uma hora, com o máximo de duas pessoas, separados por vidro e conversando por interfone, e só pode receber dois livros por semana. O resto, são as condições habituais das cadeias brasileiras, superlotadas, com os detidos revezando-se para dormir.

Pelo facto de ser um preso político, Battisti tem sido objecto de uma vigilância especialmente rigorosa, chegando a situações absurdas. Recentemente vários detidos começaram uma greve de fome, e apesar de Battisti não ter participado porque discordava das reivindicações apresentadas, ele foi considerado como um dos mentores do movimento e punido durante uma semana com supressão da visita, do acesso a livros e da entrega de cartas.

«O meu caso não pode ser analisado isoladamente» declarou Battisti. «Temos que aproveitar este caso para falar de tudo o que se conquistou em 68. Às vezes fica a impressão de que tudo o que foi conquistado foi dado pelos governos. Os governos não nos deram nada de presente, tudo o que se conquistou foi pago com a vida e com a morte. Quando se pensa em 68, logo se associam imagens de guerrilha, terrorismo. A guerrilha foi uma pequena parte de tudo o que aconteceu. O movimento de 68 era um movimento de gente que queria viver, e não morrer. De Chumbo eram os anos deles. Os nossos eram os anos de amor».

No último parágrafo de um artigo publicado em 25 de Fevereiro de 2008 no Centro de Mídia Independente parece-me estar resumida em poucas palavras a lição principal sobre este caso (adaptei os brasileirismos ao uso português): «Poderíamos entender esta situação como uma disputa anacrónica pertencente a grupos que até hoje acertam contas sobre um passado distante. Mas, ao que parece, é justamente na disputa dessas imagens sobre o passado que está colocado um dos principais debates sobre o presente e o futuro: se os companheiros e as companheiras dos Anos de Chumbo forem classificados como terroristas sanguinários, a nossa geração de lutas inscrever-se-á no mesmo caminho e receberá o mesmo tratamento. Fica sugerido, em oposição, que o caminho de recolocar na história presente o significado dessas lutas e as suas conquistas abrirá caminhos de avanços às gerações passadas e às nossas. Seja qual for o fim desta história, só a união e a solidariedade nos restam. Se não por nós, pelos nossos destinos».

Vários companheiros brasileiros organizaram um site de apoio a Cesare Battisti
http://cesare.revolt.org./. Esperamos que outras vozes portuguesas se juntem!


Comentários dos leitores

eduardo 2/2/2009, 20:18

estou colocando seu link no meu blog.


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