Gestores chegam a ganhar 219 vezes mais que os trabalhadores

Pedro Goulart — 8 Janeiro 2008

salaires_72dpi.jpgA propósito dos reparos feitos por Cavaco Silva à enorme desproporção entre o que ganham os gestores “de topo” e os trabalhadores das respectivas empresas, apareceram uns senhores (J. Miguel Júdice, Pacheco Pereira, Lobo Xavier & Cª) – daqueles que não precisam de contar até ao fim do mês os euros que lhes restam – a dizer que diminuir as diferenças salariais não resolve o problema e que o discurso de Cavaco cedeu à “demagogia e ao populismo”.

Só os mais empedernidos defensores do capitalismo é que não são capazes de reconhecer quão escandalosas são as diferenças existentes em Portugal entre os salários dos trabalhadores e os vencimentos que os gestores e os patrões embolsam. Segundo um estudo feito pelo Jornal de Negócios, em 2007 os vencimentos médios dos administradores executivos das 20 principais empresas cotadas na Bolsa foram 33 vezes superiores ao salário médio dos trabalhadores das mesmas empresas. O montante médio desses vencimentos atingiu no ano passado 871 mil euros mensais, tendo cescido 9 % em relação ao ano anterior.

Olhando caso a caso, os gestores da Semapa ganharam 219 vezes mais que os trabalhadores (1,76 milhões de euros contra 8 041 euros). Na Portucel a diferença foi de 73 vezes, no BCP de 67, na Brisa de 62, na Portugal Telecom de 58 e na Jerónimo Martins de 56. Para além da Semapa, também o BCP Millennium, a Brisa e a Portugal Telecom pagaram aos seus administradores executivos vencimentos anuais superiores a um milhão de euros.
Nos casos da EDP e da Brisa, nem mesmo a diminuição dos lucros (em 12,23% e 43,88%, respectivamente) foi razão para contenção de vencimentos. Pelo contrário, o vencimento anual dos seus administradores aumentou em 109% e 118%.

Numa coisa aqueles senhores têm metade da razão – não será com a diminuição dessa diferença entre gestores e trabalhadores que se resolve o problema. Mas a solução não é a que eles alvitram – ela virá com a destruição do sistema capitalista, de que eles e Cavaco Silva são porta-vozes e beneficiários. Só assim ficarão eliminados, de raiz, os males de que enferma a sociedade portuguesa.


Comentários dos leitores

Margarida Silva 13/1/2008, 16:35

É muito importante a denúncia destas desigualdades. Mas para rebater o que dizem senhores como Júdice e outros não basta dizer que a solução virá com a destruição do sistema capitalista. É preciso, em cada momento, "desmontar" aquele discurso. É preciso explicar o que é "demagogia" e o que é que aqueles senhores querem dizer com o termo e onde reside a demagogia deles. É preciso explicar (sempre) o que é "populismo" e como é que aqueles senhores manipulam o termo no seu discurso.

Anónio Casqueira 7/3/2008, 22:25

Enquanto eles "roubam" isso, existem centenas ou talvez milhares de trabalhadores do estado que ganham menos que o SMN .
Os trabalhadores deste estado (funcionários publicos) que estão no indice 123 (o mais Baixo) ganham em 2008 : 410,63€ por mês . MENOS 15,37€ que o salário minimo nacional que é em 2008 de 426,00€
Uma vergonha amigos e companheiros.
Talvez as 219 vezes sejam muito mais

António Casqueira 10/3/2008, 16:33

A minha notícia referente ao Sálario Minimo da Função Publica que estava abaixo de Salário Minimo Nacional em 15.37€ deixou de ser correcta.
Hoje dia 10-03-2008 foi publicado o Dec-Lei 41/2008(execução do O.E. de 2008), onde no seu artigo 28.º esta situação de injustiça foi corrigida. O Salário Minimo na Função Publica passou para o indice 128 no valor de 427,00€
João


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