O desaire paquistanês
M. Raposo — 5 Janeiro 2008
O assassinato de Benazir Bhutto é um novo desaire para a política dos EUA. A ditadura de Pervez Musharraf vai-se aproximando do fim no meio de uma profunda crise política e social, como sucedeu há anos com as ditaduras de Marcos, nas Filipinas, e de Suarto, na Indonésia – também elas apoiadas até à última pelos EUA. No Paquistão, Bush procurou um compromisso que salvasse tudo: o papel preponderante dos militares, a mão de ferro de Musharraf e as aparências de democratização trazidas por Benazir.
Uma engenharia complicada entregou a direcção das forças armadas ao chefe dos serviços secretos, manteve a presidência em Musharraf e preparava-se para entregar a chefia do governo a Benazir.
O regime paquistanês sofre agora o revés de ter sido o principal apoio dos EUA para a ocupação do Afeganistão.
O crescimento da resistência afegã vai a par com uma crescente agitação social no Paquistão, dadas as afinidades entre as populações dos dois lados da fronteira.
Perdido o principal ponto de apoio fora da ditadura, o caso torna-se altamente preocupante para o imperialismo: é que, para além da convulsão social que agita o país e torna incerta a saída política, o Paquistão tem armas nucleares – e uma mudança política incontrolada seria mais um pesadelo para os EUA. Estamos, pois, perante mais um exemplo em que a evolução dos acontecimentos produz efeitos contrários aos que o imperialismo pretendia obter. Toda a estratégia para domínio do Médio Oriente sai furada aos EUA, agora também no caso paquistanês.