Rescaldo da cimeira Europa-África
O êxito político foi curto, mas os negócios prosperam
M. Raposo — 14 Dezembro 2007
Depois de assentar a poeira das discursatas de Sócrates e de Durão Barroso sobre os êxitos da cimeira União Europeia-África e sobre o horizonte radioso que sugerem para as relações entre os dois continentes, verifica-se que nem tudo correu pelo melhor para a UE; e confirma-se que o principal desiderato são os negócios firmados. O resto é pompa.
Os europeus pretendiam substituir os anteriores regimes de cooperação e comércio por novos acordos, chamados Acordos de Parceria Económica, cuja negociação deveria estar terminada, por imposição da Organização Mundial do Comércio, até final de Dezembro. A resistência de alguns países africanos (África do Sul, Senegal e Nigéria) tornou isto impossível, ficando as conversações de “prosseguir”, como disse Durão Barroso, em 2008. Balanço dos efeitos práticos, só lá para 2010, em nova cimeira a realizar na Líbia.
Os acordos de Iaundé, Lomé e Cotonu (*) – que tiveram por alvo 77 países, com mais de 650 milhões de habitantes, da África, das Caraíbas e do Pacífico (daí designados ACP) – foram estabelecendo regras de relacionamento entre a UE e aqueles países em domínios que iam desde a “estabilização política” dos regimes até às trocas comerciais. À conta de um anunciado propósito de “promover e acelerar o desenvolvimento” dos estados ACP, os acordos procuravam criar, no longo prazo, condições para a expansão do capital europeu. Revistos regularmente, os acordos apontavam metas que procuravam desenvolver o sector privado (contra o estatal, por exemplo) e a produção para exportação, em que o capital europeu podia ganhar posições; e apontavam para a liberalização do comércio, em que os produtos europeus podiam ganhar mercado.
Os novos Acordos de Parceria Económica que a cimeira de Lisboa quis negociar – que afinal se mostraram maior fonte de divergência do que a presença de Mugabe – visam precisamente culminar este processo de liberalização das trocas comerciais, abrindo os mercados aos produtos dos países de capitalismo desenvolvido da União Europeia. A coberto de uma falsa igualdade (porque as condições económicas de cada um não são as mesmas), é fácil de prever que conduzirão à ruína as economias mais fracas. Por isso alguns dos regimes africanos temem pela vida das suas economias nacionais, incapazes de competir com os poderosos meios da Europa – e, em geral, do mundo capitalista desenvolvido. E uma das exigências que levantam, logicamente, é, no que respeita à agricultura, o fim dos subsídios da UE aos agricultores europeus que, com essa ajuda estatal, colocam os seus produtos no mercado internacional a preços ainda mais baixos, dando cabo da concorrência.
Os acordos pretendidos pelos europeus, como referiu o director da Federação dos Agricultores da África Oriental, representam no longo prazo um travão ao desenvolvimento da economia africana. Sabendo-se que entre 65 a 70% da população africana depende da agricultura, uma tal travagem traduzir-se-ia em ainda maiores dificuldades e num aumento dos desastres humanitários que se têm sucedido no continente, durante e depois da colonização europeia.
Foi por factos desta ordem que organizações sociais africanas e europeias reunidas na cimeira alternativa realizada na faculdade de Belas-Artes, em Lisboa, afirmaram que “a Europa é a fonte mais directa de ameaças e pressões aos povos de África”.
Não obstante, a provar que os negócios não perdem o tino com os atrasos políticos, o governo português (à semelhança de vários outros) negociou com a Líbia, à margem da cimeira, uma série de acordos comerciais de efeito imediato, nos sectores da energia, obras públicas, construção civil e finança. A Galp Energia associou-se à Libya Africa Investment Portolio para exploração e produção de petróleo; a Secil vai comprar 50% da cimenteira Al-Ahlia Cement Company; e, além destas, firmaram ainda acordos as construtoras Bento Pedroso e Teixeira Duarte, a Efacec e os bancos Espírito Santo e Efisa.
(*) Em vigor, respectivamente, de 1963 a 1975, de 1975 a 2000 e de 2000 a final de 2007.
Comentários dos leitores
•Danielle Françs 6/3/2008, 19:40
É muito triste saber que nossos irmãos que são tam ricos, sofrem tanto.
•taise 12/3/2008, 16:55
essas imagens são muito tristes
•Nelito 21/3/2008, 16:53
Minha nossa senhora...ao ponto que esta merda de mundo chegou!!!
•juliana 24/3/2008, 19:19
Olha, eu gostei muito do ponto de vista de quem fez a matéria e achei surpreendente os dados que eu achei.
Infelizmente essa é uma triste realidade.
•Talita 6/5/2008, 12:27
As pessoa tiram as fotos publicadas e não ajudam os africanos com doações de alimentos e roupas!! isso é uma decepção
•Bruna 28/5/2008, 20:33
Eu acho que somente apontar os problemas da Africa é muito fácil, o dificil é fazer com que sejam resolvidos.
E que o grande problema da Africa não é a miséria e sim que nela, foram feitas fronteiras artificiais, colocando tribos inimigas em um mesmo país.
Muitas das pessoas que moram em paises da Africa não se reconhecem como nação e sim com etnias (tribos), e por terem essa disputas entre eles.
As grande maioria das crianças já nascem desnutridas e com fome, opa! quer dizer elas não podem ter fome se não sabem o que é ser alimentada.
E que a grande beneficiada por essa desgraça são as multinacionais, que aproveitam e se enrriquessem sem ao menos pensar em ajudar os paise da Africa a se tornarem paises propriamente dito.
•Naiara 11/7/2008, 15:51
Meu Deus, que mundo é este com tecnologias avançadas, onde estão as pessoas com disponiblidade para ajudar esses seres humanos que necessitam de apoio...Que pais é este...
•Vanessa Villas Boas 11/7/2008, 20:58
Achei a materia muito chocante, mas é a realidade do nosso mundo, só espero que um dia isso possa mudar.
•danielle 28/5/2010, 10:39
ACHEI ESSA MATERIA MUITO TRISTE ESPERO QUE UM DIA ISSO NO MUNDO POSSA MUDAR!
•Dila 28/2/2011, 18:08
A ganância e egoísmo do Homem-branco ainda levará à extinção não só a Africa, mas, toda a humanidade.