Os aristocratas das profissões liberais e a malta a recibo verde

Urbano de Campos — 11 Dezembro 2007

Da troca de insultos entre o ex-bastonário da Ordem dos Advogados J. M. Júdice e os que lhe sucederam, o argumento mais interessante foi o que Júdice lançou contra o bastonário recém eleito. Disse ele que Marinho Pinto é um “sindicalista”, com isso significando que não é homem para o lugar.

O argumento não é parvo de todo, mesmo se não for ajustado à figura e aos propósitos de Marinho Pinto. As ordens profissionais (advogados, arquitectos, engenheiros, médicos…) debatem-se hoje com um problema que não existia em tão grandes proporções, por exemplo, há dez anos atrás. Presentemente, as ordens dão guarida a milhares de membros que não são profissionais liberais, mais sim assalariados (professores, funcionários públicos, empregados de grandes e médias firmas). Os interesses desses assalariados, que alimentam as máquinas das ordens com quotas por vezes vultuosas, não são de modo nenhum defendidos pelas estruturas dessas mesmas ordens, feitas à medida dos interesses dos profissionais liberais.

Sem grande esperança de virem a trabalhar exclusivamente por conta própria, porque o mercado das profissões liberais é, também ele, cada vez mais dominado pelos grandes grupos (empresas, escritórios, ateliês, clínicas…), o problema maior desses assalariados é, consoante os casos, o Estado ou os patrões que os mantêm, na maior parte das vezes, com contratos a prazo – ou mesmo sem contrato nenhum – e com salários baixos.
O risco que, aristocraticamente, Júdice vê é o de os interesses corporativos dos barões da advocacia serem atrapalhados pelas exigências da malta a recibo verde.


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