Sevilha: centro social resiste ao despejo
Cândido Guedes — 7 Dezembro 2007
No bairro sevilhano de Pumarejo, às 8 da manhã de 29 de Novembro, jovens activistas ofereceram resistência não violenta à força policial enviada pelas autoridades para desalojar o Centro Social “Casas Viejas”, instalado numa antiga fábrica que há cinco anos fora por eles ocupada e recuperada para actividades sociais, de luta e culturais.
O despejo já era esperado e foi planeado um complexo processo de resistência: seis activistas acorrentaram-se a blocos de cimento de modo a que nem eles próprios se pudessem soltar. Quatro deles foram retirados pela polícia, mas os outros continuaram acorrentados e incomunicáveis num complicado sistema de túneis e ventilação construído para o efeito. Os activistas informaram a força de repressão de que “a vida destas pessoas podia correr perigo se os sistemas de ventilação falhassem ou fossem provocados aluimentos”.
Dentro e fora do Centro, mais de uma centena de pessoas manifestaram-se, sem opor resistência activa aos mais de 60 polícias e bombeiros para ali destacados. Depois, interromperam o trânsito nas ruas adjacentes e percorreram a cidade convocando a população a resistir com eles. Houve dois feridos ligeiros em recontros com a força de choque. Um porta-voz do “Casas Viejas” disse: “Embora não seja legal, aquilo que estamos a fazer é justo; estamos a demonstrar que é possível resistir e desobedecer aos processos económicos injustos”.
Os dois activistas acorrentados a 4 metros debaixo do chão – um professor universitário de Geografia e um carpinteiro-pedreiro formado em Filosofia – acabaram por ser retirados 36 horas depois (às 19h30 de sexta-feira), quando a polícia descobriu o sofisticado sistema de bloqueio utilizado.
O nome deste Centro Social – “Casas Viejas” – evoca o nome de uma aldeia próxima de Cádiz (também na Andaluzia, mais a sul) que, em 1933, decretou a revolução social por decisão da população e foi brutalmente reprimida pela polícia, tendo sido mortos a tiro, queimados e asfixiados muitos dos seus habitantes.