EDITORIAL
Democrática ditadura
6 Dezembro 2007
Em entrevista publicada – significativamente, a 25 de Novembro – no Diário de Notícias, Mário Soares faz rasgado elogio à política “determinada” e “corajosa” de Sócrates, e aconselha-o – “agora” – a “dialogar com o mundo do trabalho”. Ao mesmo tempo, declarando-se “chocado” com o modo “como as desigualdades sociais se agravam nos últimos tempos”, Soares diz que “tem de se lutar contra isso”.
Não faz mais do que transmitir ao jovem Sócrates a receita de um velho oportunista, mestre da arte de governar à direita piscando o olho à esquerda. Soares finge não saber que as desigualdades que o “chocam” são o produto directo da política que ele próprio, linhas atrás, elogia. Da mesma maneira que sempre fingiu ignorar que a desastrosa evolução do país nos últimos 30 anos é o fruto da ofensiva que ele encabeçou contra o movimento popular de 74-75, como ferro de lança de toda a direita e de tudo o que de mais reaccionário havia no país.
São essas forças – que lhe agradecem reconhecidas o serviço prestado então, mas dispensam os conselhos misericordiosos – que hoje dominam o poder e conduzem os negócios. O Soares de hoje é Sócrates, adaptado às necessidades da época.
A par do papel de administrador de plantão dos grandes negócios, o engenheiro trata de pôr em marcha um aparelho de Estado cada vez mais policial, com poderes concentrados no executivo, de ataque aos direitos sindicais, de limitação das liberdades… uma espécie de infraestrutura de segurança, estabelecida de consenso com toda a direita, que resguarde o poder da legítima revolta das vítimas.
O conselho de Soares a Sócrates traduz-se facilmente: Continua. Mas olha que o aparelho repressivo não basta. O serviço só será plenamente eficaz se conseguires convencer as tuas vítimas de que és amigo delas.
Comentários dos leitores
•miguel 7/12/2007, 10:55
Falta falar das negociatas de armamento para a UNITA que esse tipo fez com Savimbi!!! Está cheio, o patife!
•florival rogerio neves cordeiro 25/12/2007, 16:27
É verdade, camaradas, o Mário Soares e a sua família têm aquilo que sempre desejaram. Estão cheios de dinheiro à conta do 25 de Abril, ele e os seus capangas. Quem foi buscar o presidente do BCP a Espanha? Os OPERÁRIOS da Lisnave não esquecem os ordenados em atraso e a repressão policial e os contratos a prazo.