Paris: morte de dois jovens voltou a incendiar os subúrbios
Renato Teixeira — 4 Dezembro 2007
Os subúrbios de Paris voltaram a insurgir-se no mês passado contra a violência policial.
Em causa, a morte de dois adolescentes de 15 e 16 anos num choque com um carro-patrulha. As circunstâncias do acidente foram a tal ponto duvidosas que obrigaram a Inspecção-Geral da Polícia a levantar um inquérito aos acontecimentos.
O caso levou a nova explosão de revolta, como em 2005, quando Nicolas Sarkozy, então ministro do Interior, chamou “escumalha” ao povo dos arredores de Paris, onde moram mais de cinco milhões de pessoas, grande parte imigrantes.
Desta feita, a maior convulsão centrou-se no distrito de Val-D’Oise. Em menos de duas noites deram entrada no hospital mais polícias do que em toda a crise de 2005, realidade que reflecte a radicalização dos confrontos. A idade dos jovens revoltados também aumentou e há relatos de que têm respondido às cargas policiais com armas de fogo.
O governo, a braços com uma forte greve de vários sectores laborais, respondeu à Sarkozy, que é como quem diz com mão pesada e com políticas fascizantes. Entre elas o recolher obrigatório, o redobrar da televigilância e o reforço do contingente policial, que transformaram os bairros, quase desertos de moradores, em cenários de intimidação, próprios de uma cidade em guerra.
Os conflitos estenderam-se depois a outros bairros e à cidade de Toulouse, no sul, com números crescentes de feridos e de incêndios.
A extrema-direita, pela voz de Le Pen, acusa Sarkozy de ter mão leve e de não ter feito o que prometeu: “ruptura e limpeza” nos bairros suburbanos.
O certo, porém, é que os habitantes dos bairros não parecem dispostos a aceitar a continuação da violência policial nem os ataques dos dirigentes políticos à sua dignidade. Nesse sentido, é de esperar que a resistência violenta continue, como resposta a um governo que opta cada vez mais pelo discurso da violência.