Zap

Eugénio Silva — 3 Dezembro 2007

Comprei um comando novo nos chineses. Barato. O outro avariou-se há que tempos. Mal mudava de canal, com a preguiça de me levantar. Agora vejo só um bocadinho de cada coisa. Mas dá um panorama.

Guerra colonial na Dois: cabeças de pretos espetadas em paus à beira de uma picada onde passava uma coluna de tropa portuguesa. Um antigo militar, entrevistado agora, torceu o nariz, enjoado. Com ar comprometido. Mas um capelão da época, com pronúncia tipo Santa Comba Dão, explicou: como eles, os pretos, acreditavam que não morriam com as balas dos brancos, tornou-se necessário mutilá-los, cortar-lhes as cabeças. Tornou-se necessário… Fixei-lhe o nome: Francisco Jorge. Padre, valha-o Deus.

Saltei de canal. Dou com um concurso. Fazem perguntas de escola primária a miúdos que sabem muito e a adultos que não sabem nada. Percebi que o gozo é mostrar adultos ignorantes. Escolhem de certeza os que sabem menos para dar este efeito. Eu, que sei ainda menos, sinto-me humilhado. A sério. Acabo ignorante na mesma, e gozado.

Saltei de novo. A guerra outra vez. Falava o coronel Fabião. Sabem qual era uma das torturas que a tropa portuguesa fazia aos prisioneiros africanos? Pregar-lhes pregos na cabeça até eles morrerem.

Mais um salto. Notícias na Sic. O ministro Severiano Teixeira (tinha o nome em baixo), com um ar de menino que nunca calçou botas da tropa, a dizer que o soldado português que morreu no Afeganistão morreu em defesa da pátria. Pátria? O Afeganistão? Pensei que tinha voltado sem querer ao filme da guerra colonial.
Só não me arrependo de ter comprado o comando porque assim fujo mais depressa.


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar