Medo da Rússia

M. Raposo — 5 Novembro 2007

Os opositores russos de Putin têm sempre garantida ampla cobertura por parte dos meios de comunicação ocidentais. Mote: o “autoritarismo”, a falta de liberdades, os assassinatos atribuídos ao poder do Kremlin. Repetiu-se a cena com a visita de Putin ao nosso país para participar na cimeira UE-Rússia.
O motivo não está nos factos que ilustram a campanha, mas na apreensão do ocidente com a afirmação da Rússia enquanto potência. Putin iniciou um processo de recuperação económica; recuperou poder político correndo com os “conselheiros” norte-americanos que rodeavam Ieltsin; chamou à alçada do Estado boa parte dos recursos energéticos que a “abertura” de 1991 pusera nas mãos de uma máfia ligada ao capital imperialista, e fez deles uma poderosa arma política e económica face aos EUA e à UE; retomou o papel de potência no xadrez mundial aproximando-se da China numa aliança que junta praticamente todos os países da Ásia; optou por fazer frente às ambições dos EUA e da UE sobre o Irão e a Sérvia (Kosovo); não teve rebuço em reforçar a competição armamentista e espacial para responder à arrogância norte-americana.
A Rússia inverteu a queda iniciada em 1991 e resiste assim ao plano dos EUA de a anular como potência e de a dividir aos bocados para tomar conta dos seus recursos.
A acção de Putin corporiza um projecto imperialista? Claro, nem outra coisa poderia dar-se num país com os recursos e a extensão territorial da Rússia, uma vez retomado o caminho do capitalismo sobre a derrota da revolução de 1917. Mas quando os bandidos entram em guerra, ganham com isso as pessoas de bem. A Rússia, como a China e outras potências emergentes, disputam o hegemonismo da principal força imperialista de hoje, os EUA. É daqui que brota o fervor “democrático” que faz falar os imperialistas ocidentais e a sua comunicação social.


Comentários dos leitores

António Alvão 2/2/2008, 23:31

Há uns anos atrás parecia ser "fino" os políticos portugueses serem: o PS e toda a direita pró-americana (ainda hoje João Soares muitas das vezes quando vai à televisão diz que é de esquerda e pró-americano!).
Os partidos à esquerda do PS, eram pró-soviético, pró-albanês e pró-chinês!
E nenhum partido era pró-português, porquê? Quem sabe responder a esta questão? Que necessidade é que haveria de se ser pró-estrangeiro e não pró-Portugal? Porquê estes políticos inspirarem-se nos autoritarismos estrangeiros e não se inspirarem na prata da casa: nomeadamente,na geração de 70, passando por António Sérgio até Jaime Cortesão? A mediocridade está afinal em quem? Na geração de 70 ou nos políticos dos anos 60 ou 70?
É uma cobardia estar-se do lado dos mais fortes; do lado dos criminosos, contra as vítimas. Isto é genético nos humanos. Quando no circo romano o gladiador-vencedor eliminava fisicamente o adversário, era o delírio em toda a assistência, ovacionando o matador, a vítima era deitada aos leões.
As ideologias de direita e da esquerda autoritária também foram criadas pela simpatia das matanças, pelo controle do poder, a partir do chefe-supremo; e nunca se criou nenhuma ideologia de homenagem às vítimas do terror político-e-ideológico.
"O nosso inimigo tem direito à dignidade, por isso não devemos causar-lhe sofrimento" (...)
"O Homem não tem remédio" (Saramago)
"Eu não acredito nos Homens, por isso nunca votei" (António Gedeão = Rómulo de Carvalho).
Nem pró-americano, nem pró-soviético, nem pró-chinês; nem Bush, nem Putin! Liberdade para os povos.
Desprezo total para os chefes supremos, políticos e religiosos. Viva a Liberdade!


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