José Afonso: Reinterpretar o Mestre

José Mário Branco — 5 Novembro 2007

A obra de José Afonso é um manancial inesgotável de aprendizagem e de inspiração para as sucessivas gerações de músicos e intérpretes, sobretudo portugueses e galegos. As primeiras iniciativas marcantes terão sido os duplos álbuns Filhos da Madrugada, vários artistas com supervisão de Sérgio Godinho, BMG, 1994, e Maio Maduro Maio, registo do concerto ao vivo de Amélia Muge, João Afonso e José Mário Branco, Sony, 1995.
Este ano, a propósito dos 20 anos da morte de José Afonso, outros intérpretes, de diferentes estilos musicais, publicaram (ou anunciam a publicação de) uma série de novas experiências reinterpretativas: os Couple Coffee com Co’as Tamanquinhas do Zeca, em toada anglo-brasileira e com excelentes arranjos para voz e baixo eléctrico; mais tradicionais, os Erva de Cheiro com Que Viva o Zeca; o álbum A Terra do Zeca, do grupo Terra d’Água (do milanês Davide Zaccaria), com as vozes convidadas de Dulce Pontes, Filipa Pais, Lúcia Moniz, Maria Anadon e Uxia; da Banda Futrica, Com Zeca No Coração; e ainda os anunciados Abril, da fadista Cristina Branco, e Convexo, da cantora de jazz Jacinta.
É uma lacuna grave na cultura popular do nosso país, e não só, que, passados 20 anos sobre a sua morte, ainda não haja um livro de referência com as partituras e os diagramas de acordes (um “song book”) com as mais de duzentas canções gravadas por José Afonso. Pois notam-se por vezes, aqui e ali, nestas experiências, algumas fraquezas ou mesmo erros que não decorrem do legítimo impulso interpretativo da recriação, mas sim de lacunas no conhecimento da obra do Mestre.


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