Pequena vila dos EUA faz frente aos mercenários da Blackwater
A empresa queria lá instalar a sua escola de assassinos
José Mário Branco — 20 Outubro 2007
Imaginem uma pequena vila de 800 habitantes – Potrero, no condado de San Diego, Califórnia – a fazer frente à maior empresa de mercenários do mundo. E a conseguir os seus objectivos. Pelo menos para já. A Blackwater saltou recentemente para as páginas dos jornais estadunidenses por dois motivos: primeiro, porque se foram acumulando as notícias de assassinatos e maus tratos dos seus elementos contra civis no Iraque; segundo, porque, facto inédito até hoje, na sequência do desastre provocado pelo furacão Katrina, os seus sicários foram mandados pelo governo policiar as ruas da Nova Orleães, em vez dos corpos de polícia estaduais ou federais.
A Blackwater está no Iraque praticamente desde a entrada das tropas EUA em Bagdade. Logo foi encarregada da segurança do primeiro representante de Bush, Paul Bremer, e do perímetro da “zona verde” de Bagdade onde estão acantonados os comandos estadunidenses e colaboracionistas. Lembramo-nos também das imagens de dois dos seus elementos a serem justiçados pelo povo de Faluja, incidente que foi o pretexto para o primeiro cerco (falhado) das tropas EUA a esta cidade iraquiana de 400.000 habitantes, em Abril-Maio de 2004.
Interessada em instalar o seu “centro de formação” em terrenos vizinhos da pequena cidade, a Blackwater tratou de corromper a maioria dos membros da Comissão de Planeamento de Potrero, com a ajuda de políticos influentes de San Diego, para votarem a favor dessa instalação. Mas a população, onde existe um núcleo anti-guerra do Iraque muito activo, mobilizou-se, manifestou-se e fez parar o processo. Os semanários regionais divulgaram a notícia e a Comissão corrompida recuou, dizendo que o voto em causa tinha sido “apenas consultivo”…
É uma pequena luta em curso, numa pequena cidade da Califórnia, onde os manifestantes exibem cartazes contra “os mercenários” e “os aproveitadores da guerra”.
Comentários dos leitores
•carmélio 20/10/2007, 22:01
Zé,
"Acerca das palavars que usamos", qual o porquê do "imaginem" nesta postagem, se tudo o que nos diz são factos?
•JMB 22/10/2007, 8:48
Caro leitor:
"Imaginem" serve, neste caso, como "vejam só". O verbo "imaginar" significa aqui "representar mentalmente algum facto insólito, inesperado ou improvável". É o caso, parece-nos, do facto noticiado, dada a desproporção entre as partes em confronto e o contexto repressivo actual nos EUA. (Claro que, com esta ênfase, o redactor assume um papel opinativo, que é assumidamente o da Redacção do MV).
•carmélio 24/10/2007, 22:32
JMB,
Para além da "dada a desproporção entre as partes em confronto e o contexto repressivo nos" states, pensei que querias dizer "surpreendente" apenas por ter acontecido nos Estados Unidos.
É que aqui há protestos, comícios, manifestações, etc, todos os dias. Os impérios caem por dentro e este não vai ser excepção.
Um àparte:"Ai, as palavras estão em crise
E não é só pelo que elas querem dizer
Ai, as palavras tëm raízes
Que começam no som que elas estão a perder"JMB
Força e obrigado pelo esclarecimento!