PSP da Covilhã limitou-se a pôr em prática a linha do governo para a “ordem pública”

M. Raposo — 10 Outubro 2007

covilha_reduz.jpgUm comunicado da direcção do Sindicato dos Professores da Região Centro denuncia a invasão da sede do sindicato, na Covilhã, no dia 8, por dois polícias à paisana, na véspera de uma visita de Sócrates à região. Os agentes, que tiveram o desplante de dizer tratar-se de uma acção “de rotina”, perguntaram o que ia o sindicato fazer no dia da visita de Sócrates; recomendaram que tivessem cuidado com a linguagem; e levaram consigo documentos – um conjunto de atitudes que a direcção sindical justamente designa de pidesco. Para que não restassem dúvidas, o comando da PSP da Covilhã afirmou, sem rebuço, que quis saber se havia algum protesto, para assegurar a ordem pública.
A violação de direitos é evidente. Mas, além disso, ressalta o propósito de intimidação. É flagrante a tentativa de coagir os activistas sindicais. É patente a intenção de amedrontar os manifestantes. É clara a preocupação de evitar que Sócrates fosse recebido, mais uma vez, com vaias e gestos de repúdio pela política do governo.

Comentando o facto, Miguel Sousa Tavares escandalizou-se, mas disse não crer que as ordens tenham vindo de cima. Trata-se, segundo avaliação sua, de um “excesso de zelo” da parte da polícia. Talvez; mas isso não tira nada à gravidade do assunto. De certo modo, até lhe acrescenta gravidade: um tal “excesso de zelo” significa que existe, nos corpos policiais, um reflexo automático que os leva a considerar, sem precisarem de ordens expressas, ser esta a maneira adequada de corresponder à linha do governo para a “segurança pública”.
De resto, foi Sócrates, ele mesmo, que, sorrindo, teve a distinta lata de afirmar que a PSP visitou o sindicato para “organizar a manifestação”! Cobertura total, portanto, ao acto pidesco.

Junte-se isto ao famigerado Estatuto do Jornalista (ver artigo de Rui Pereira no MV), à tentativa do governo de colocar a GNR na dependência directa do primeiro ministro e à concertação ibérica de polícias e juízes a pretexto da ETA (ver artigo no MV) – e avalie-se o laço securitário que está a ser montado.

Apesar do zelo da PSP, José Sócrates não evitou ser recebido na Escola Secundária Frei Heitor de Sousa, onde estudou, com um concerto de vaias e de apupos.


Comentários dos leitores

José Alberto da Rocha e Sousa 15/10/2007, 13:23

Histórinha mal contada, pelo sindicato claro, esta da invasão.
Então nesta altura do campeonato chega a polícia à paisana à porta do sindicato e entra?
Entra com ordem de quem?
Meus amigos polícia à paisana sem ordem judicial não entra em lado nenhum em que as pessoas não os queiram deixar entrar.
E polícia à paisana sem ordem judicial se tentar forçar a entrada não passa de vulgar bandido pelo que pode e deve levar umas arrochadas no lombo.
Credibilidade precisa-se. E este sindicato deu, a meu ver, um grande tiro no pé, ou nos 2 pés, ao pactuar numa inventona para criar factos políticos.
Já agora aquele que pretende ser um jornal de referência para a classe trabalhadora não deve embarcar em manobras políticas rasteirinhas sob
Pena de nascer morto.

M. Raposo 16/10/2007, 18:12

A sua desconfiança, caro leitor, não basta. Não nos dá provas do que diz, apenas conjecturas. A nossa notícia, em contrapartida, baseia-se nos dados coincidentes de todos os meios de comunicação. De resto, se não bastassem as declarações do comando da PSP da Covilhã, o próprio inquérito feito pelo governo, rapidamente arquivado, confirma o essencial dos factos - só que procura desvalorizá-los. A marcha para um Estado policial não é uma ficção.


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