EDITORIAL
O mecanismo
5 Outubro 2007
A riqueza produzida no país reparte-se hoje à razão de 60% para o capital e 40% para o trabalho – depois de ter chegado a meio por meio a seguir a 1974.
Bem reconhece o economista João César das Neves (professor, católico, de direita) que “a crise não é económica”. De facto, não é a produção, por si, ou a falta dela, que gera tamanha desigualdade. Porque é que, mesmo com baixo ritmo de crescimento, a riqueza não pára de aumentar, em volumes inéditos, nas empresas dominantes?
O mecanismo que assegura esta drenagem maciça para o lado do capital é a própria estrutura social em que vivemos.
O capital não precisa apenas de ganhar. Tem de ganhar a um ritmo ditado, não pelo interesse das pessoas, mas pelas exigências da concorrência. Nessa “competitividade”, tão enaltecida, é que está a origem da riqueza e da pobreza.
Mal fazem, pois, os que se limitam a ver nesta privatização da riqueza um “abuso”, e daí deduzem, como política possível, a via de chamar à razão patrões e governantes. Infrutífero esforço.
O que faz a diferença entre a situação de agora e a de há 30 anos não tem a ver com a conjuntura económica, mas com a menor capacidade dos trabalhadores para arrancarem concessões ao capital. Só há um meio de inverter isto: tornar a força de quem trabalha maior do que a força de quem explora.
Com o início da publicação da página internet do MV (em simultâneo com a saída do número um da edição em papel) é divulgado o manifesto Mudar de Vida – Reerguer a luta contra o capital. Trata-se de um documento aprovado por um grupo de activistas políticos apostados em ajudar a abrir campo à luta que verdadeiramente faz falta: a que se opõe ao sistema instalado, por ver nele a raiz da degradação da vida da maioria dos portugueses. Sem tal combate não há esquerda. É esta a nossa carta política.
Comentários dos leitores
•Antonio Barata 7/10/2007, 17:58
Neste jornal não há cultura!?
Sem cultura não há futuro!
Sem cultura não há esperança!
Sem cultura não há barómetro para a liberdade.
Liberdade sim, total, sobretudo para os que pensam de modo diferente, até para os inimigos.
Como se sabe o que querem se não podem falar, dizer o que pensam, o que pretendem fazer.
Foi a cultura e os seus agentes, que mais incomodou o regime salazarista.
As lutas reprimem-se, esmagam-se.
A cultura, molda, impregna-se, cria adesão, cola-se à pele do povo.
Cria cumplicidades, atrai simpatias, corrompe a ordem estabelecida.
O que ficou da Revolução Bolchevique? Só a Cultura e a Ciência! O Estalinismo matou os agentes culturais, mas a cultura ficou.
É necessária uma cultura de liberdade e da liberdade. Sem a qual não há homens livres.
Há quem pense. Liberta-se o homem e nasce a cultura. Não! Não é a politica que liberta o homem. É a cultura que liberta o homem, o homem que liberta a cultura.
O que é um jornal sem cultura?
•Redacção 8/10/2007, 18:29
Caro António Roque Barata:
A cultura faz parte da nossa concepção de intervenção política. Por isso, a secção VER OUVIR LER se dedica ao assunto.
Mas o MV define-se como um jornal político. Neste sentido: consideramos que é a política a alavanca de domínio ou de transformação das sociedades - porque é ela que toca na questão nevrálgica do poder. Se assim não fosse, as classes dominantes não necessitariam de partidos políticos nem de exercer o poder político e de o defender por todos os meios. É esse poder que subordina os outros, inclusive o cultural. Dai que abdicar do combate político seja, a nosso ver, abdicar de enfrentar o poder, também no domínio cultural.
Envie-nos temas de cultura alternativa que ache valerem a pena - de sua autoria, por exemplo. O mesmo para eventos que tenham cabimento na agenda VAI ACONTECER.
Saudações,
A redacção.