Crise imobiliária, sinal do declínio do capitalismo norte-americano

Carlos Simões — 5 Outubro 2007

A finança internacional e as autoridades monetárias estão em alerta para uma crise económica mundial. O alarme foi dado no início de Agosto quando a Bolsa de Wall Street perdeu mais de um trilião de dólares em valores. A causa imediata da convulsão foi o colapso do regime de crédito à habitação “sub-prime.” Face ao aumento recente das taxas de juro, muitas famílias norte-americanas estão a falhar no pagamento de empréstimos. Consequentemente, os bancos perderam liquidez comprometendo os seus encargos e investimentos. O banco central dos EUA, a Reserva Federal, injectou 62 milhões de dólares para suprir faltas de liquidez.

Efeitos mundiais

É importante a dimensão mundial da crise. Os bancos europeus têm avultados investimentos em fundos norte-americanos dos quais as “sub-prime” são uma componente. Um banco alemão de média dimensão, IKB Deutsche Industriebank, teve de ser salvo da falência, e mesmos os gigantes BNP Paribas, de França, e HSBC, do Reino Unido, admitiram dificuldades face à insolvência dos fundos norte-americanos. O Banco Central Europeu ofereceu 300 milhões de dólares à banca para assegurar liquidez na banca europeia.

Pés de barro

O domínio que os EUA detêm sobre os mercados financeiros não é acompanhado por dinamismo produtivo. Em 2000, para sair de uma depressão económica, as autoridades monetárias dos EUA desceram a taxa de juro, que em 2003 chegou ao mínimo de 1%. O crédito fácil estimulou consumo e investimento, financiando ainda a guerra no Médio Oriente. Como a produção nos EUA não acompanhou o vigor monetário, muitos dos dólares destinaram-se a importar produtos do Oriente e da Europa. E estes importadores investiram os rendimentos em Wall Street. Foi um período lucrativo para a banca e para as empresas norte-americanas que geriam os fundos estrangeiros.

Insustentável

Mas o crescimento da dívida externa e do défice comercial, tornou este regime insustentável. A Reserva Federal, para repor o poder de compra do dólar, aumentou a taxa de juro, que em 2007 chegou a 5,25%. Para manter os lucros, a banca reviu as regras do empréstimo à habitação, diminuindo as exigências para a sua concessão. Jogava, assim, na expectativa de que os salários acompanhariam o acréscimo do juro. O crescimento da economia, contudo, contradisse este optimismo.

Desemprego sobe

Em Setembro o governo legislou incentivos fiscais para a renegociação da dívida das famílias. A Reserva Federal reduziu a taxa de juro para 4,75%. A banca passou a ser mais cautelosa na concessão de novo crédito. Mas estas medidas não garantem um final feliz. Os preços das habitações desceram 4% e estima-se que possam perder até 15% do seu valor, o que seria um enorme abalo para a riqueza das famílias. Pela primeira vez em quatro anos registou-se em Agosto um aumento do desemprego.

Prosperidade aparente

A crise dos empréstimos “sub-prime” revela a fragilidade da economia norte-americana que mantém aparente prosperidade através do crédito fácil e do poder de compra do dólar. Mas estas são soluções temporárias, e os consumidores e empresas terão de aceitar uma perda real de riqueza. Os EUA perdem ainda capacidade para ditar a política económica mundial, sem recurso a aliados e à negociação.


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar