“Anti-terrorismo” na Alemanha
Académico detido sob acusação de cumplicidade intelectual
Rui Pereira, jornalista — 5 Outubro 2007
O sociólogo e professor universitário alemão Andrej Holm, 36 anos, foi posto em liberdade provisória para aguardar até Outubro a decisão judicial sobre o processo que a Procuradoria alemã lhe moveu por cumplicidade intelectual com uma organização listada como “terrorista”, o Militante Gruppe. Holm passou todo o mês de Agosto numa prisão de Berlim em regime de isolamento em cela fechada durante 23 horas por dia e encontra-se em risco de voltar a ser enclausurado.
O despacho da Procuradoria alemã fundamenta sintomaticamente a prisão pela existência de coincidências lexicais entre os textos académicos de Holm e os textos de documentos daquela organização. A polícia diz ainda que Holm se terá encontrado com um suspeito de pertencer ao Militante Gruppe, num momento em que não levava o seu telemóvel, o que confere, para as autoridades, um carácter “subversivo” a esse encontro. A Procuradoria diz ainda que a condição de sociólogo e académico, capacita Andrej Holm para poder ser o autor de alguns textos de boa qualidade intelectual do grupo. Holm, que é membro do colectivo Attac, na Alemanha, era seguido há três anos, tendo sido, segundo a polícia, referenciado em manifestações anti-globalização.
Nos meios académicos de todo o mundo desenvolve-se um vasto movimento de solidariedade com Holm, avultando entre os subscritores de uma carta de protesto dirigida à Procuradoria alemã, nomes como o do sociólogo Richard Sennet.
Comentários dos leitores
•José Luiz Sarmento 13/11/2007, 23:43
Vejamos se entendi: há uma organização, a Militant Gruppe, da qual não se sabe se alguma vez planeou ou cometeu algum acto terrorista, mas que é terrorista por definição, uma vez que está «listada» como tal. Há um indivíduo que pode pertencer ou não a essa organização, a qual por sua vez pode ser ou não terrorista. Há um académico que se encontra com este indivíduo sem levar telemóvel. Além disto é membro do colectivo «Attak», escreve trabalhos académicos cuja terminologia é utilizada também em textos da tal organização e, horror dos horrores, aparece referenciado em manifestações anti-globalização.
Por tudo isto é preso e acusado de «cumplicidade intelectual».
O que é «cumplicidade intelectual?»
E o que é que está a acontecer na Alemanha? Proto-fascismo ou paranóia?