Os abortos na Ordem
Bastonário da Ordem dos Médicos levanta obstáculos à realização de interrupções voluntárias da gravidez
João Repas, médico — 7 Setembro 2007
O dr. Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, defendeu que os centros de saúde não devem realizar abortos (IVG) com medicamentos, afirmando que tal prática “estimula as pessoas a considerar banal o que não deve ser banal, impõe uma pressão sobre os médicos de família insustentável…”. Com o argumento de que o sistema público não pode dar uma “falsa segurança em algo que pode não ter os níveis de segurança que seriam desejáveis”, disse que a Ordem do Médicos deveria “continuar a definir a IVG como algo negativo” a fim de “cumprir a legislação e a vontade dos portugueses”.
Diz a lei que, em casos que não levantem problemas, as IVG devem ser feitas nos centros de saúde, que contam com a complementaridade de serviços hospitalares.
O presidente do colégio da especialidade de obstetrícia/ginecologia, Dr Luís Graça, defendeu que 90% da IVG química (medicamentosa) deveria ser feita em centros de saúde por ser um acto médico simples, já que, “tirando 10-12% de casos eventualmente problemáticos”, é nesses locais que se encontram os “médicos que melhor conhecem a população.”
Perante tal disparidade de opiniões, a motivação do bastonário só pode ser de ordem politico-ideológica, não tendo a ver com o próprio acto médico.
Tambem o facto de em Dezembro vir a haver eleições para a Ordem dos Médicos não deve ser estranha.
A resistência dos que foram contrários à lei da IVG, recusando às mulheres o direito de decidirem por si próprias sobre a sua orientação familiar, continua – e requer uma atitude de firmeza para que a legislação seja aplicada e cumprida.
A recusa nos centros de saúde e hospitais de aplicação da lei deve levantar a indignação das mulheres e seus familiares e levá-los a mobilizarem-se para defender este direito, sem esperarem que outros resolvam os seus problemas.
A exigência de que devem ser atendidas tem ser feita no local; e ninguém deve aceitar um não como resposta ao seu pedido, mesmo com a justificação de que não têm meios.