Arquivo: Janeiro 2019

Portugal com a UE na segunda linha do golpe

Manuel Raposo — 28 Janeiro 2019

Percebe-se agora melhor o sentido da recusa do presidente da República e do Governo em estarem presentes na Venezuela, no passado dia 10, na tomada de posse de Nicolás Maduro: sabiam do golpe que estava em marcha, orquestrado pelos EUA e acolitado pela União Europeia. E percebe-se também melhor o alcance de Marcelo (e o Governo através dele) ter prestado apoio sem reservas, dias antes, ao inqualificável Bolsonaro: o novo regime brasileiro é peça-chave do golpe contra a Venezuela.


Venezuela entre o golpe e a invasão

António Louçã — 24 Janeiro 2019

Parece claro que até domingo, dia 27 de janeiro, se optará nos Estados Unidos entre a receita golpista e a receita da invasão para liquidar o que resta do chavismo. É sempre arriscado fazer “prognósticos antes do jogo”, mas o risco reduz-se drasticamente se há, como é o caso, uma lógica de ferro no comportamento do imperialismo norte-americano.


Sair ou não sair da Síria

Depois de ter anunciado a retirada das tropas dos EUA da Síria, o presidente Trump vai adiando a medida, em parte sob pressão dos meios militares. As hesitações sobre a Síria têm um nome: os EUA (e a UE) foram derrotados nos seus propósitos de tomar conta do país. A guerra que ambas as potências promoveram e financiaram procurava colocar no poder um fantoche que lhes fosse obediente, e isso falhou. Obama passou pelo dilema de Trump, mas ao contrário: entrar ou não entrar em força na guerra era a sua questão. O desenlace mostra, primeiro, que a oposição aos planos imperialistas reúne forças consideráveis (e não são apenas os russo e os chineses), e, segundo, que a hegemonia militar


A cultura e as pistolas

António Louçã — 17 Janeiro 2019

Os anfitriões de Marcelo em Brasília não perdem uma ocasião para mostrar o que querem fazer da cultura.
A última foi a ministra Damares Alves, ao criticar a sua própria seita evangélica por ter capitulado perante a ciência. Diz a ministra que a igreja nunca devia ter deixado a teoria da evolução substituir nas escolas a lenda bíblica dos sete dias da Criação.


Os actos traem as palavras

Manuel Raposo — 10 Janeiro 2019

O presidente da República deixou gravada uma mensagem de Ano Novo, para português ouvir, com muitos e sisudos conselhos. Entre eles, um alerta para os perigos do “populismo” a que Portugal não estará imune. Partiu de seguida para o Brasil onde representou “o país” na posse de Bolsonaro, o “populista” mais recentemente eleito, com a agenda fascista mais explícita de todos eles. Meio mundo recusou-se a aparecer em Brasília, mas a lusa democracia não — e viu-se acompanhada de Orbán e Netanyahu, esses dois lídimos representantes da liberdade, da igualdade e da fraternidade.


Ele Não!

6 Janeiro 2019

O presidente da República teve o despudor de convidar Bolsonaro a visitar Portugal, coisa que o país não lhe encomendou e que vai contra tudo o que seria razoável fazer perante um personagem como aquele. O que vem cá fazer o fulano? Melhor: o que pretendem Marcelo e a diplomacia portuguesa que venha ele cá fazer? Agradecer pessoal e presencialmente a vitória que lhe deu a comunidade brasileira em Portugal? Apresentar de viva voz os seus métodos para “reforçar a democracia” e tirar o capital da crise? Explicar o processo de criminalizar como terroristas os movimentos sociais? Dar alento aos seus apaniguados lusitanos? Glorificar a Pide como fez aos torturadores brasileiros?
Se o convite se concretizar, será caso para organizar, massivamente, a recepção que um energúmeno desta estirpe merece. Começando, desde já, por dizer como milhões de brasileiros: Ele Não!


Não instaura o fascismo quem quer

António Louçã —

Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré. Bolsonaro foi durante 30 anos um deputado medíocre e vai tornar-se em poucos meses um ditador falhado.
As comparações com Hitler e Mussolini são completamente deslocadas. Ambos deram corpo a projectos imperiais, de grandes potências que tinham saído mal da Primeira Grande Guerra — a Alemanha derrotada e enxovalhada em Versalhes, a Itália vencedora mas frustrada com o seu escasso quinhão na partilha dos despojos.


Porque é que o Estado “falha”?

Urbano de Campos — 1 Janeiro 2019

De há um ano para cá, a direita — com o concurso do presidente da República — tem vindo a cavalgar as tragédias nacionais com lamúrias de mau gosto e com a acusação de que o Estado “falhou”. Motivos, de facto, não faltam, desde os incêndios de 2017 até ao recente desabamento da pedreira de Borba ou à queda do helicóptero do INEM. Chegou mesmo a evocar-se o colapso da ponte de Entre-os-Rios (há quase 20 anos!) e houve mesmo quem, para apimentar o assunto, levantasse alarme acerca da ponte 25 de Abril.