Agravam-se as desigualdades

Pedro Goulart — 3 Março 2016

Oxfam_cropA Oxfam, uma organização não-governamental de âmbito mundial empenhada na luta pelo desenvolvimento e contra a pobreza, acaba de publicar dados recentes sobre a desigualdade social no mundo. Dois factos ressaltam: a desigualdade na distribuição dos bens é enorme e tende a aumentar; e a crise mundial do capitalismo tem agravado a situação, crescendo o fosso que separa os ricos dos pobres.
Os números apresentados não deixam margem a dúvidas.

Destacamos alguns:
– A riqueza acumulada por 1% da população mundial foi, em 2015, equivalente ao património dos 99% restantes.
– As 62 pessoas mais ricas acumularam o equivalente à riqueza dos 50% mais pobres da população mundial (em 2010 eram 388 pessoas).
– Mais de mil milhões de pessoas ainda vivem com pouco mais de um euro por dia.

No que respeita a Portugal, os 10% mais ricos detêm mais de 50% da riqueza do país; e a taxa de risco de pobreza aumentou para quase 25% da população, o que corresponde a mais de 2 milhões de portugueses. Segundo afirma um também recente relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal continua hoje entre os países mais desiguais e com maiores níveis de pobreza consolidada de entre os 34 membros da OCDE.

Os efeitos e as causas

A crueza destes e de outros dados sobre as enormes desigualdades existentes, fortemente responsáveis pela fome, sofrimento, miséria e morte de milhões de seres humanos, indigna e revolta justamente outros milhões de homens e mulheres em todo o mundo. Muitos artigos e livros, estudos mais ou menos aprofundados, têm sido publicados sobre o tema, mas, em geral, divulgam apenas o estado actual das coisas e/ou a sua evolução. Estudiosos da área social-democrata, do Banco Mundial, da OCDE, das mais diversas Universidades, têm produzido numerosos textos sobre o tema. E, algumas vezes, elaboram sobre razões de superfície das desigualdades e da evolução delas, mas raramente apontam as suas causas de fundo.

Em escritos e declarações há aqueles que se manifestam hipocritamente contra tais desigualdades – têm pena dos pobrezinhos – mas nada de substancial trazem para alterar esta situação. São muitos os que defendem uma desigualdade não tão chocante e que, no dia a dia, apadrinham ou aceitam a prossecução de políticas como, por exemplo, as que têm sido levadas a cabo em Portugal e que em vez de diminuírem, aumentam o fosso que separa ricos de pobres. Só os ingénuos (e não são poucos) se deixam levar por tais figurões.

Há também os que olham para as desigualdade numa perspectiva menos “ética” e de mais eficiência económica do ponto de vista capitalista. Para eles há uma desigualdade “boa” que, na opinião deles, cria incentivos ao estudo, ao trabalho ou ao início de processos empresariais arriscados. E há uma desigualdade “má”, quando preserva posições adquiridas e bloqueia mudanças políticas favoráveis a um maior crescimento capitalista.

Mas actualmente as causas determinantes das desigualdades (e do seu agravamento) entre os homens, os países e as nações são claramente a existência de classes sociais dominantes e de classes sociais dominadas no sistema capitalista, de países e centros imperialistas, assim como do respectivo exercício do poder económico e político nas suas sociedades. E, logicamente, é raro aparecerem referências a estas causas nos média do sistema ou em estudos ditos científicos. Assim, em relação às análises das desigualdades existentes e às eventuais propostas destinadas a alterar essa situação, devemos estar bastante atentos, para melhor poder denunciar e combater os falsos amigos dos trabalhadores e do povo.


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