Também no Japão

João Bernardo — 15 Maio 2008

operariosjaponeses_72dpi.jpgTerminada a segunda guerra mundial, o Japão, ocupado pelos vencedores norte-americanos, era um país em escombros e onde as forças políticas de esquerda tinham peso e existiam sindicatos combativos. Para reforçar os sindicatos reformistas e evitar o perigo revolucionário instituiu-se o hábito de proceder a negociações anuais entre os sindicatos e as maiores empresas, em que se estabeleciam os aumentos salariais, tomados depois em consideração pelas restantes firmas. Estas negociações anuais, juntamente com o emprego vitalício garantido a numerosos trabalhadores e as promoções por tempo de serviço, constituíam a base do pacto social em que assentou a considerável estabilidade daquele país.

Porém, como sucedeu em todo o mundo, as grandes empresas passaram a recorrer à subcontratação e à transferência de actividades para pequenas firmas ou para indivíduos, com a consequente precarização do trabalho. Hoje 1/3 dos trabalhadores japoneses são temporários ou laboram em regime de part-time. E à medida que os detentores de empregos vitalícios morrem ou se vão reformando, as empresas recorrem a trabalhadores precários. Nesta conjuntura de fragmentação da força de trabalho os sindicatos passaram a proceder a reivindicações muitíssimo modestas e desde o começo da década de 1990 os salários têm-se mantido estagnantes, a ponto de o actual primeiro-ministro e até uma importante organização patronal conhecida pelo seu conservadorismo terem apelado para que as empresas paguem melhor aos trabalhadores.

Todavia, o principal jornal económico japonês recordou aos leitores que os salários no país são dez vezes superiores aos praticados na China, o que é uma forma não muito subtil de dizer que, se os trabalhadores não estiverem sossegados, as transnacionais com sede no Japão farão ainda mais investimentos no outro lado do mar. E assim os sindicatos, nas negociações decorridas este ano, praticamente prescindiram de exigir o aumento do salário mensal de base e em vez disso tentaram reduzir a diferença − que em alguns casos atinge 40% − entre a remuneração dos trabalhadores estáveis e a dos precários.

Este conjunto de circunstâncias levou os custos salariais a diminuírem muito e chegou-se à curiosa situação em que, apesar do aumento de preço das importações − pois o Japão tem de comprar ao estrangeiro o petróleo e as numerosas matérias-primas de que não dispõe − os preços dos bens produzidos têm-se mantido estáveis, a taxa média de lucro praticamente não tem declinado e nos últimos cinco anos muitas das grandes empresas alcançaram mesmo lucros sem precedentes. Neste caso o aumento nominal da produtividade não se deveu às inovações tecnológicas a que o capitalismo nipónico nos habituou, mas a uma receita mais simples, a de pagar menos ao pessoal.


Comentários dos leitores

Rodolfo 16/5/2008, 15:26

A Situação dos trabalhadores na China está pesando muito sobre os trabalhadores do mundo todo.


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