“O outro lado da moda”(*)

Urbano de Campos — 13 Maio 2008

vilorbarcelos_72dpi.jpgNo final de Abril, mais uma empresa têxtil de Barcelos, a Vilor, fechou as portas mandando para o desemprego 67 trabalhadores. Uma semana antes, uma outra empresa dos mesmos patrões, a Lor & Lor encerrou igualmente despedindo 33; e mais duas, a Districelus e a JSL, fecharam também e despediram 20 trabalhadores cada uma.
Invocando “falta de condições para laborar”, os proprietários da Vilor e da Lor & Lor anteciparam as férias dos trabalhadores – não certamente para lhes conceder esse direito mas para não os ter por perto quando fosse anunciado o encerramento que todos já anteviam.

De acordo com fontes do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, os trabalhadores da Vilor não receberam nem o subsídio de férias nem o salário do mês de Abril, tendo apenas recebido o mês de Março com cheques pré-datados para serem levantados em final de Abril.

Com os 33 trabalhadores da Lor & Lor nem isso aconteceu: não só os últimos pagamentos vinham a ser feitos com atraso como, por fim, foram mandados embora sem receber sequer o mês de Março, como se se tratasse de um despedimento colectivo feito contudo à margem da lei, sem pré-aviso.

A imprensa regional refere que, só no primeiro trimestre deste ano, os despedimentos no sector têxtil no concelho de Barcelos atingiram 500 trabalhadores. Trinta empresas, metade das quais têxteis, fecharam portas desde Janeiro. No concelho existem presentemente mais de 5 mil desempregados, a maioria do sector têxtil.

vilorbarceloslogo_72dpi.jpgOs trabalhadores do sector são na maioria pagos pelo salário mínimo. Uma vez despedidos ficam com graves problemas de sobrevivência. Algumas costureiras arranjam por vezes trabalho, mas em condições precárias, mais mal pagas e até mesmo em condições clandestinas, de acordo com informações de um dirigente sindical do sector.

Da mesma maneira, as expectativas criadas pelo governo em torno de um chamado “Plano Estratégico” para o Vale do Ave, da autoria do ex-ministro da Economia Daniel Bessa, não têm contribuído senão para iludir os trabalhadores com “soluções” que nunca chegam a ser reais e para entravar a acção sindical.

Na verdade, todos esses “planos” esbarram numa coisa muito simples: os patrões não querem manter empresas abertas se elas não lhes derem o máximo lucro possível. É isso que significa “falta de condições para laborar”.

Da parte dos trabalhadores trata-se de defender as suas condições de sobrevivência. Para isso, importa que a acção sindical se desenvolva não apenas para remediar os males dos despedimentos depois de consumados, mas para organizar os trabalhadores. Desse modo, se criam condições para que não sejam apanhados desprevenidos e tenham maior capacidade de resistência.

Sabe-se como as condições políticas de hoje são adversas para os trabalhadores. Mesmo assim, vale sempre a pena lembrar os exemplos em que os operários ocuparam empresas em crise para defenderem os postos de trabalho, como os casos vividos depois do 25 de Abril de 1974, designadamente no sector têxtil. A resignação e o silêncio não são as únicas saídas.

(*) Frase publicitária da empresa têxtil Vilor


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