Por um sindicalismo de classe

Urbano de Campos — 9 Fevereiro 2008

A CGTP promoveu em 24 de Janeiro uma manifestação em defesa da contratação colectiva. Apesar de se ter tratado de uma acção de delegados e dirigentes sindicais, a deficiente divulgação pública não ajudou a dar à iniciativa a amplitude que o assunto merece.
Os objectivos são justos, mas uma mobilização limitada aos quadros e delegados sindicais deixa de fora a massa trabalhadora. Cabe perguntar que efeitos são de esperar deste tipo de acção; em que projecto de luta se insere; que propósitos de mobilização dos trabalhadores existem.

Segundo quadros sindicais, a proximidade do congresso da CGTP cria uma certa necessidade de trazer as bandeiras sindicais para a rua; mas existe também pressão de delegados e dirigentes de base sobre a urgência de reagir às medidas do governo e dos patrões.

As mesmas fontes estão convencidas de que o congresso vai decorrer nos moldes habituais, com intervenções das diversas correntes que integram a Central (PC, ex-PC, PS, BE e LOC). Muito provavelmente, a discussão vai girar à volta de saber se Carvalho da Silva continua ou não à frente da direcção e em que condições; e em torno da filiação internacional. Mas teme-se que fique de fora, por exemplo, o acordo de concertação social de rendimentos que atrela a CGTP a um Salário Mínimo Nacional de 500€ em 2011!

Falta um programa de acção de mobilização efectiva das bases sindicais e da massa que não é tocada pelos sindicatos. Apesar de crescer a insatisfação nas bases activas dos sindicatos não existe uma corrente de ideias e práticas que traduza esse descontentamento em propostas alternativas.

Assim sendo, há que continuar a fazer o trabalho da formiga, fomentando a luta, a solidariedade entre trabalhadores e o debate de ideias sobre um sindicalismo de classe e combativo, fortemente baseado na democracia dos trabalhadores.


Comentários dos leitores

António Alvão 14/2/2008, 16:55

Já lá vai o tempo em que o sindicalista era um homem pensante, consciente, recto. De conduta ética e profissional exemplar, quase sempre dos melhores artistas da sua profissão. Coerente com as suas ideias, no trabalho e no lar. Estudioso e culto. Suas ambições não se restringiam à satisfação do estômago porque o seu cérebro estava bem mais acima e além daquele órgão digestivo. Lutador pela igualdade social. Propunha-se liquidar através da acção directa os males da sociedade burguesa até atingir o pleno desenvolvimento progressista de justiça social e uma sociedade onde todos os seres humanos possam co-existir pacificamente, produzindo e usufruindo de riquezas naturais e do trabalho de todos em favor de todos.
Estes eram sindicalistas do fim do século XIX e princípios do século XX.
(Confesso que tenho pena não ter vivido naquele tempo).
Quando os sindicatos de hoje se tornaram correias de transmissão dos partidos burgueses e stalinistas, foi a morte do movimento sindical. Hoje os sindicatos lutam pelo aumento do salário e não pela transformação da sociedade.
A Igreja, generais, partidos de direita, vêm a terreiro insurgir-se contra as injustiças, o desemprego, a corrupção, etc. e os sindicatos e partidos à esquerda do PS ficam parados no tempo em vez de aproveitarem esta onda de descontentamento geral_ trabalho precário; 70 mil licenciados sem integração no mundo do trabalho, etc.
Porque é que os sindicatos e o "movimento" dos descontentes (que é também o nosso caso) não convocam ou não convocamos um dia por semana uma manifestação junto de todos os governadores civis de distrito deste país, a reivindicar integração no mundo do trabalho e social. Hoje felizmente é mais fácil a convocatória a nível nacional.
Porque um estado que não divida o trabalho e o rendimento é sempre um estado corrupto, à que combatê-lo.

Francisco d'Oliveira raposo 18/2/2008, 3:20

Com efeito, a discussão centrou-se na figura do Carvalho da Silva, na posição sobre a União Europeia e na adesão a uma organização sindical internacional.
Claro que estão todos contentes com um salário mínimo de 416€, com o emagrecimento e em muitos casos desaparecimento do subsídio de desemprego, com as reformas miseráveis dos trabalhadores reformados etc.
Os críticios queriam uma participação "responsável" na construção da União Europeia.
A maioria recua para a fronteira da soberania nacional (e do bom velho capitalismo português) e diz que se bate por uma Europa Social seja lá isso o que for.
Nenhum deles é capaz de dizer que a União Europeia é dos patrões e, se queremos mudar a miséria de vida que nos impõem temos de mudar para uma União Europeia dos Trabalhadores...
Enfim, do mal o menos: segundo a 'corajosa' denúncia do António Chora, os jovens delegados sindicais são todos encafuados na Quinta da Atalaia a aprender sobre luta de classes...
E daqui se vê a crise do ensino em Portugal: a luta de classes anda 'ligeiramente' arredada da agenda da maiorioa dos dirigentes sindicais sejam eles da maioria, sejam eles das minorias.
Daí que deste Congresso nem as moscas mudaram... tá bem as mais velhotas...


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