Modo de vida

Urbano de Campos — 17 Maio 2015

dias_loureiro_PDA massa de que é feito Passos Coelho, se dúvidas houvesse, ficou à vista com o elogio que fez a Dias Loureiro, na inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira. Com o visado à sua frente, o primeiro-ministro retratou-o como um “empresário bem sucedido”, um homem que soube “vencer na vida”. Depois de ter mandado emigrar os jovens, de achar que os reformados não merecem as pensões que recebem, de insultar os pobres por viverem “acima das suas posses” e de ainda considerar elevados os custos do trabalho, Coelho fecha da melhor maneira este círculo de desmandos: elevando à condição de modelo um oportunista que usou os cargos partidários e do Estado para enriquecer, mover influências, concertar-se com outros da mesma laia.

Entre os feitos de Loureiro de maior sucesso, lembremos, contam-se a evaporação de 40 milhões de euros de uma firma sediada em Porto Rico e um desfalque no BPN de 7 mil milhões que os assalariados portugueses sem sucesso estão ainda a pagar.

Coelho não deve muito à inteligência, mas não lhe falta esperteza. Não foi, portanto, por lapso ou inépcia política que disse o que disse. O seu gesto foi um acto de reabilitação e de admiração por um certo modo de vida. Interessa-lhe não só estar nas boas graças dos Dias Loureiro como lhe interessa aprender com eles.

Por instinto, Coelho sabe que o seu próprio caminho de sucesso só pode passar pelos mesmos métodos e por percurso idêntico. É isso que indicia a sua carreira na política, a sua amizade com Relvas, a sua iniciação na Tecnoforma — e o mais que se há-de ver.

Nem de propósito, a recém-publicada biografia de Passos Coelho tem por título: “Somos o que escolhemos ser”.


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