Vítor Bento, o moralista

Carlos Completo — 16 Abril 2011

loureiro_costa_cavaco.jpgVítor Bento, presidente do Conselho de Administração da SIBS – Sociedade Interbancária de Serviços (empresa que gere a rede do Multibanco) – e há algum tempo nomeado por Cavaco Silva para membro do Conselho de Estado, em substituição de Dias Loureiro, apresentou recentemente o livro Economia, Moral e Política, em que acusa os políticos como os maiores culpados pela crise económica internacional. Aqui, o autor discorre sobre uma Moralidade exterior à Economia, pretendendo autonomizar aquela do contexto económico-social que a determina.
Lembramos que este é o mesmo Vítor Bento que foi promovido no Banco de Portugal, por Constâncio, quando já lá não estava há vários anos (que moralidade?). O mesmo Vítor Bento defensor da flexibilização da legislação laboral e do abaixamento do salário dos trabalhadores, para melhorar a “competitividade” da economia.

Publicado pela Fundação Francisco Soares dos Santos, de Alexandre Soares dos Santos (Pingo Doce) e de António Barreto, o livro considera que a actual crise resultou de uma crise de valores morais e que os políticos falharam nas escolhas que fizeram.

Atendendo aos antecedentes de Vítor Bento, de que moralidade fala o autor?

“No livro olhei para a crise internacional não apenas do ponto de vista estritamente económico, mas enquanto erupção de uma crise de valores da própria sociedade. Há muitos factores que contribuíram, mas um deles é o facto de hoje vivermos numa sociedade onde os valores materiais são a referência comum, que quase toda a gente subscreve”, declarou Vítor Bento à agência Lusa.

O conselheiro de Cavaco afirma, ainda, que “em última instância, os políticos têm sempre mais culpas, porque têm a obrigação de gerir a casa comum, de ver melhor e mais longe. Enquanto os outros elementos privilegiam muito o seu interesse particular, os políticos têm a obrigação de colocar o interesse comum acima de tudo, de estar no cimo da torre com uma visão mais ampla e, portanto, limitar os estragos que os interesses particulares possam fazer”.

Como se os políticos que têm governado o País (representados no Conselho de Estado) não fossem homens de mão dos capitalistas! Não serão estes políticos, em última análise, os responsáveis directos pelas escolhas e medidas dos diversos governos da burguesia?

Responsabilizando os políticos genericamente, o que Vítor Bento pretende é escamotear a luta de classes e a exploração capitalista, que são, efectivamente, o motor do sistema económico vigente. E, por aquilo que Vítor Bento tem dito e escrito, pelos interesses a que sempre tem estado ligado, não parece que a moralidade de que fala no seu livro possa representar mais que uma tentativa de dar cobertura ideológica à actual ordem económica capitalista.


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