Insatisfação no aparelho repressivo do Estado

Carlos Completo — 3 Janeiro 2011

blindado_psp.jpgMagistrados, polícias e militares, para além da contínua defesa dos privilégios dos seus grupos profissionais em relação aos restantes trabalhadores, têm-se destacado nos últimos tempos pela denúncia da falta de condições de trabalho e de equipamentos diversos, pressionando o governo. Conscientes do seu papel decisivo na manutenção da ordem burguesa, exploradora e opressiva, estes corpos do aparelho repressivo do Estado sabem que o poder político acaba por ceder a grande parte das suas exigências.

Dois dias seguidos no Diário de Notícias, e na linha do papel que tem vindo a ser desempenhado por este matutino, aparecem várias conversas com militares e polícias, procurando justificar os gastos do Estado com as forças repressivas e pressionar o governo a despejar aí mais dinheiros públicos.
Isto, na sequência das trapalhadas com a encomenda dos seis blindados (que não chegaram a tempo) para a recente cimeira da NATO e no meio dos pesados sacrifícios hoje impostos às classes trabalhadoras.

No dia 27 de Dezembro, em artigo de Paulo Julião, baseado em fonte oficial da Marinha, afirma-se, entre outras coisas:
A Marinha portuguesa, encarregue de manter a segurança, defesa e salvamento da 11.ª maior área de águas jurisdicionais do mundo, operou em 2010 com apenas cinco navios de defesa e mais 10 de segurança. Os primeiros têm já cerca de 20 anos de operação e os restantes à volta de 40.

Afectos às “funções de defesa militar e apoio à política externa”, estiveram, em 2010, cinco fragatas das classes Vasco da Gama e Bartolomeu Dias, com cerca de 20 anos de operação. A estas juntar-se-ão os novos submarinos Tridente e Arpão.
Na vertente de “segurança e autoridade do Estado”, os 10 meios à disposição da Marinha contam com entre 35 a 40 anos de operação.

Com o pretexto de ser impossível vigiar em permanência, ou com a frequência necessária, todo o espaço marítimo nacional, esta fonte da Marinha considera que a “única estratégia de controlo eficaz é a da dissuasão, onde os submarinos desempenham um papel importante. Ainda, refere a necessidade de entrega “o mais rapidamente possível” dos oito navios-patrulha oceânicos em construção em Viana do Castelo.

E, no dia 28, o mesmo jornal, agora em mais uma prosa da inefável Valentina Marcelino:
Se a frota de veículos com protecção balística da PSP ficar reduzida aos dois blindados que já foram entregues, a diversidade de cenários em que pode actuar ficará muito limitada. Um oficial superior da GNR argumenta que “para projectar uma unidade numa missão internacional teria de ter os seis blindados, com um total de 60 homens, que é o mínimo considerado para estas operações”.

Por seu lado, o presidente do Sindicato Nacional de Oficiais da PSP sublinhou que “se foi assumido e sustentado pela direcção da PSP e corroborado pelo Governo que havia necessidade de adquirir seis viaturas com protecção balística e não apenas duas, era porque se tratava de uma necessidade real para responder às exigências das várias missões da PSP”.

Envolvidos em jogos internos de poder e com alguma indiferença em relação à “crise” e às difíceis condições de vida da maioria dos portugueses – militares, polícias e magistrados manifestam-se “preocupados” com o êxito das suas missões no Afeganistão, nos “bairros problemáticos” ou em processos mediáticos como o do caso Freeport. Prosseguem, impávidos, os seus gloriosos combates!


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