São mais de 700 mil os desempregados efectivos

Pedro Goulart — 24 Agosto 2010

desempregoiefp.jpgEm 17 de Agosto foram divulgados os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos ao desemprego existente no segundo trimestre deste ano: são 590 mil desempregados, correspondendo a 10,6% da população activa. Com uma situação agravante – tem crescido fortemente o número de desempregados de longa duração (os que estão sem trabalho há mais de um ano), representando actualmente mais de metade do total dos desempregados. Mas, se a estes números oficiais adicionarmos os inactivos disponíveis (mais de 70 mil) e o sub-emprego visível (60 mil), obteremos 730 mil desempregados efectivos, que correspondem a cerca de 13% da população activa.

Entretanto, vários patrões têm-se queixado do facto de pretenderem contratar trabalhadores para as suas empresas e de não o conseguirem fazer, por falta de resposta às respectivas ofertas. Alguns destes casos, divulgados por empresários e propagandeados nos media pelos seus papagaios amestrados, têm sido um dos suportes de campanhas demagógicas contra os desempregados. Mas, muitas vezes, estes senhores não explicam quais são os salários que estão dispostos a pagar e as condições de trabalho que querem impor aos contratados.
No mesmo dia em que saíam os dados do INE, o patrão das Torneiras Roriz lastimava-se ao Jornal de Negócios dizendo que há três meses procurava, sem sucesso, quatro pessoas para a empresa e que oferecia ”aquilo que a lei manda”, isto é, 475 euros brutos.

Também, no mesmo jornal, pode encontrar-se um editorial de serviço, de João Cândido Silva: “São gestores e empresários que querem expandir os seus negócios e que, para o conseguirem, precisam de mais mão-de-obra, que denunciam a situação. Procuram no mercado, mas não conseguem encontrar quem esteja disponível para preencher um novo posto de trabalho. Daqui até se poder concluir que há algo de estranho que precisa de ser investigado, esclarecido e combatido vai apenas um pequeno passo”.
E, depois de referir que “campeia a aldrabice”no mundo do trabalho e aqueles “que preferem não ter actividade e beneficiar da generosidade dos cofres públicos”, Cândido Silva salienta o facto de grande parte das famílias portuguesas ser proprietária (com grande pena dele) da casa onde habita, o que, somado à actual lei das rendas (que critica), não constitui uma “ferramenta para dar luta à falta de mobilidade da mão-de-obra em Portugal”.

Ainda, Francisco Madelino, presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional e homem sempre pronto a “tratar” os dados do desemprego conforme a vontade do governo, também dá aí razão a estas vozes patronais, afirmando: “Estamos a articular-nos com a Segurança Social no sentido de melhorar os sistemas de fiscalização. Acreditamos que por via desses mecanismos e das alterações legislativas que foram feitas (redução do subsídio de desemprego, assim como regras mais exigentes para obrigar à aceitação de emprego) podemos neste segundo semestre detectar cerca de 10 mil pessoas em situação fraudulenta”.

Perante a crueza dos números do desemprego e enquanto o governo discute décimas e recebe os novos dados como uma “boa notícia”, vejamos o caso dos tais trabalhadores que rejeitariam empregos. Aceitando como fiáveis algumas estimativas de origem patronal, entre 10 e 30 mil postos de trabalho oferecidos pelas empresas teriam ficado por preencher. Ora, em relação ao elevado número existente de homens e mulheres sem trabalho, tal corresponderia apenas a cerca de 3% do total dos desempregados, o que evidencia claramente a demagogia praticada por alguns políticos e patrões a propósito do tema. De facto, tal cruzada só se pode justificar como fazendo parte de uma guerra total pela “flexibilização” das relações laborais, de modo a permitir uma exploração sem freio dos trabalhadores.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 26/8/2010, 14:04

As regras do sistema capitalista são claras quando atravessa uma crise de sobreprodução ou uma crise financeira: aumento do desemprego e sobre-exploração de mão de obra. O capitalismo para poder sobreviver e ultrapassar estes "maus momentos" não tem alternativa. No caso concreto de Portugal, o sistema não foge à regra, independentemente da vontade, do " sentimento de confiança" que os governantes queiram incutir no espírito da sociedade em geral.
Neste momento histórico em que o imperialismo e o sistema capitalista vêem esgotados os seus trunfos vitoriosos e em que se confirma que o seu pior inimigo é a classe social que o contesta, impõe-se uma interrogação. Qual é, de facto, o pior obstáculo que impede uma alternativa política e social?
Muitos, incazes de encontrar resposta acusam e condenam de todas as formas a política do seu quase imperecível inimigo de classe, ou seja, a burguesia decadente. No entanto, o obstáculo permanece e está no seio da classe trabalhadora. O revisionismo e o social-pacifismo instalado nos partidos e sindicatos ao longo das últimas décadas são, praticamente, barreiras intransponíveis.

Toino esperança 30/8/2010, 15:16

Boa malha, afonsomanuelgonçalves.
Um abraço e saudações revolucionárias


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