Papéis do Pentágono revelam crimes de guerra

Manuel Raposo — 30 Julho 2010

bradleymanning.jpgA fuga de informações secretas do Estado-Maior dos EUA, divulgada pelo site Wikileaks, é histórica. Mais de 92 mil telegramas com mensagens trocadas entre representantes do poder norte-americano põem à luz do dia crimes de guerra e revelam a incapacidade de derrotar a resistência afegã. Os jornais New York Times, nos EUA, Guardian, no Reino Unido, e Der Spiegel, na Alemanha, publicaram várias páginas com resumos dos telegramas, dando projecção mundial ao assunto.

A propósito, o International Action Center (IAC), de Nova Iorque – animado pelo ex-procurador-geral Ramsey Clark – afirma que é o momento para abrir uma campanha que desperte de novo e mobilize um movimento que consiga pôr fim às guerras do Afeganistão e do Iraque.

O IAC lembra que, há meses atrás, um GI (militar do exército norte-americano) arriscou a prisão para expor a verdade, na esperança de que a verdade pudesse parar os crimes de guerra. Esse militar, de nome Bradley Manning, de 22 anos, especialista na análise de informações secretas, está actualmente sob custódia do Pentágono, no Kuwait, acusado de ter fornecido ao site Wikileaks aqueles e outros documentos secretos.
Se Manning o fez, acrescenta o IAC, não é um traidor mas um herói para a humanidade, uma vez que a publicação dos documentos pode ajudar a acabar com a guerra.

Em Junho o IAC iniciou uma petição em apoio de Bradley Manning exigindo a sua libertação e acesso a assistência jurídica. Só depois de 100 mil e-mails em apoio desta petição terem sido entregues à Casa Branca, ao Congresso dos EUA e, mais importante, aos principais meios de comunicação é que a história de Manning foi largamente divulgada. Antes disso, os meios de comunicação – sempre prontos a publicar as notas de imprensa do Pentágono acerca da guerra – ignoraram a história de Manning.

Para o IAC, não há dúvida de que os telegramas agora divulgados põem a nu a incapacidade dos ocupantes dos EUA e da NATO para derrotarem a resistência. E, para lá da divulgação já feita pelos jornais, uma análise detalhada dos telegramas por analistas progressistas revelará também, sem dúvida, os actos criminosos das forças de ocupação EUA-NATO.

Agora que as 92 mil mensagens são notícia é ainda mais importante que Manning continue a receber apoio, diz o IAC, que encoraja outros GI a ajudarem a denunciar os crimes de guerra dando conta da verdade.

Também o dr. Ian Douglas, membro do Brussells Tribunal (iniciativa belga do Tribunal Mundial sobre o Iraque) reforça a ideia de que a melhor defesa para Manning está em obter mais revelações de outros militares. Deveríamos lançar um apelo público, sugere Ian Douglas, a todos os que estão em condições de fazer revelações e de forte apoio ao Wikileaks.
Douglas considera que a acção da Wikileaks é histórica na medida em que nos faz vislumbrar as proporções do terrível iceberg cuja maior parte sempre soubemos que estava escondida.


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