EUA invadem Haiti

Cristina Meneses / John Catalinotto, Workers World — 28 Fevereiro 2010

haitieua_72dpi.jpgA coberto de uma missão “humanitária”, os EUA ocupam o Haiti: a um exército de 13 mil homens em terra e no mar juntar-se-á, muito em breve, um efectivo de mais 4 mil. A máquina de guerra dos EUA avança com a “propaganda” a seu lado.
A 27 de Janeiro, o semanário norte-americano Workers World mostra a realidade. Duas semanas depois da catástrofe que se abateu sobre o Haiti, deixando o país sem governo, polícia ou missão militar das Nações Unidas, os EUA asseguraram a ocupação do Haiti, com o objectivo de restabelecer a ordem pela força. As forças armadas dos EUA tomaram o palácio presidencial, os bancos, o aeroporto de Port-au-Prince e os portos. No dia 14 de Janeiro, as forças norte-americanas garantiram o controlo do tráfego aéreo; na única pista em funcionamento podem aterrar 120 aviões por dia mas há 1 400 aviões que aguardam autorização dos EUA.

O Canadá, que tinha equipas de busca preparadas para seguir viagem, mudou de ideias a um sinal dos EUA e “optou, em vez disso”, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, por enviar mais 2 mil militares.

A par dos EUA, as forças da ONU, que ocupam o Haiti desde 2004, reorganizaram o seu comando, seriamente atingido pelo sismo, e aumentam o número de tropas de 9 mil para 12 500.

Todos os factos demonstram que Washington deu prioridade à reorganização militar, em detrimento da ajuda humanitária e de emergência. Em contraste com a intervenção de Cuba que tem 650 médicos e paramédicos no terreno, a operar em hospitais de campanha, em equipas que integram estudantes finalistas de medicina cubanos, que já trataram 18000 feridos e realizaram 1700 cirurgias. Ou com a ajuda prontamente prestada pela Venezuela, a China ou o Irão.

As denúncias de responsáveis governamentais de países europeus são silenciadas ou desvirtuadas.

O italiano Guido Bertolaso (coordenador das equipas de salvamento após o terramoto na região de Abruzzo, Itália, em 2009) deu conta ao jornal londrino Times de 25 de Janeiro das acções “patéticas” e desorganizadas dos EUA, semelhantes às realizadas na sequência do furacão Katrina que assolou Nova Orleães em Agosto de 2005, afirmando tratar-se “de uma presença massiva que não é usada no sentido certo”. O governo de Sílvio Berlusconi apressou-se a demarcar-se das declarações de Bertolaso.

O ministro da Cooperação de França, Alain Joyandet, na BBC News a 19 de Janeiro, é ainda mais incisivo acerca das prioridades dos EUA: “O objectivo deveria ser auxiliar o Haiti, não ocupá-lo”. Tanto bastou para que o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner desautorizasse a afirmação.

A organização Médicos Sem Fronteiras queixa-se dos atrasos nas aterragens dos aviões carregados de fornecimentos médicos, sempre depois dos aviões militares norte-americanos.

Outra fábula desmentida é a da “horda”de sobreviventes haitianos disputando “selvaticamente” os bens que conseguem chegar às suas mãos. É o próprio embaixador dos EUA no Haiti, Kenneth Merten, que se vê obrigado a testemunhar, na BBC News a 21 de Janeiro, “a maioria dos Haitianos tem um comportamento ordeiro e tranquilo”. Carentes de alimento e água há numerosos dias, os haitianos organizam-se para salvar os mais necessitados, para receber e partilhar o socorro. Jornalistas independentes (Kim Ives e Amy Goodman) testemunharam que quando camiões de alimentos chegaram a meio da noite, sem aviso, ao bairro Delmas 33, a organização popular local mobilizou de imediato os seus membros. Saíram para a rua e delinearam um perímetro em volta dos camiões. As 600 pessoas que encontraram abrigo no campo de futebol, que é também um hospital, formaram e foi-lhes distribuído alimento de modo equitativo. “Não foram necessários marines. Não precisaram da supervisão das Nações Unidas”.

Um depoimento recolhido pelo Workers World é eloquente: “o terramoto foi como meia revolução, destruindo todos os edifícios governamentais e eliminando virtualmente o poder repressivo do Estado. É por isso que os EUA se apressam a substituir o poder do Estado, para controlar o futuro do Haiti e para garantir que o povo do Haiti não cumpre a outra metade da revolução”.


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