A política é despedir e baixar nível de vida de todos os trabalhadores

Manuel Raposo — 21 Fevereiro 2010

criancaspobres_72dpi.jpgNos dez anos decorridos desde 2000, os funcionários públicos apenas tiveram um ano (2009) em que beneficiaram de aumento real de salário; em todos os outros perderam poder de compra, com aumentos abaixo da inflação. Com o anúncio feito pelo governo – prontamente apoiado por PSD e CDS e aplaudido pelo patronato – de que não vai haver aumentos reais até 2013, os trabalhadores do Estado terão pela frente mais 4 anos de perda de nível de vida. Mas não só eles.

A propaganda transmitida pelos meios de comunicação dá crédito à ideia de que os funcionários públicos são privilegiados e, a partir daí, força a conclusão de que o nivelamento deve ser feito por baixo. É este o único critério de igualdade que o capitalismo aplica: nivelar, sempre que pode, todos os assalariados pela bitola mínima.

A inclusão no projectado Plano de Estabilidade e Crescimento de uma tal medida, não vai ter efeitos apenas nos salários da Função Pública; será também um sinal para que todo o patronato pratique política de aumentos zero.

Nos últimos dez anos, segundo o ministério do Trabalho, os salários no sector privado, em média, acompanharam a inflação. Mas, sabendo-se como têm aumentado os despedimentos, a situação média das classes trabalhadoras no seu conjunto decaiu fortemente, como é bom de ver.

No funcionalismo, não tem havido despedimentos propriamente ditos. E a medida foi, até agora, bem recebida pelos patrões porque tem permitido ao capital privado plena liberdade para despedir à tripa-forra sem que os efeitos sociais globais do desemprego atingissem níveis explosivos. Mas essa ausência de despedimentos no Estado foi sendo paga pelos funcionários com perdas contínuas de nível de vida.

Agora, em nome da diminuição da despesa pública, já se ouve o patronato a reclamar que seja o Estado “a cumprir a sua parte” no que respeita a despedimentos!

A conjugação de aumentos zero com mais despedimentos será catastrófica para as condições de vida dos assalariados, sejam do sector público ou do privado. Se tal política for avante, uns e outros vão ter pela frente um novo período de forte quebra do nível de vida. O caminho é unir esforços, juntar lutas sectoriais, rejeitar o nivelamento por baixo. É colocar os reais interesses de classe, enquanto assalariados, acima dos supostos interesses “nacionais”, ou da “economia”, com os quais o capitalismo apela ao sacrifício voluntário dos trabalhadores.


Comentários dos leitores

MCEU 17/3/2010, 17:57

"Quem de tudo ri é tolo, mas quem de nada ri é estúpido", não sei se a frase é exactamente esta mas o contexto é, e se não me engano de Bertrand Russel.
Isto para dizer o quê?
No estado de coisas presente não sei se ria de tudo ou se chore.
Uma coisa é certa, ou morremos de pressão (ditadura) ou morremos de fome, ou das duas coisas.
Dizem que o melhor remédio é rir.
QUEM ME DÁ UMA DROGA QUE FAÇA RIR??, é que no estado normal não consigo.


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