“Tratam-nos como lixo!”

6 Fevereiro 2010

call_centers_72dpi.jpgA propósito de um texto que publicámos em Outubro de 2008, denunciando o regime de trabalho a que estavam sujeitos os funcionários de um call center da TMN em Lisboa, recebemos ainda recentemente mais duas denúncias de trabalhadoras de call centers, um da PT em Coimbra e outro da Optimus. Ambas confirmam o mesmo regime brutal de trabalho, as mesmas arbitrariedades, a constante espionagem a que os operadores são sujeitos por chefes e chefetes, as ameaças de despedimento e a insegurança no trabalho.

“Somos números e descartáveis”

Também eu trabalho num call center, em Coimbra, da PT. No meu caso, estou em outbound, quatro horas por dia a “incomodar clientes” para tentar convencê-los a aderirem ao serviço meo. Estou já há quatro meses. Sou licenciada em antropologia e estou a fazer mestrado, o que implica um financiamento do meu bolso para a minha própria investigação. Como neste país pouco se aposta nos estudos em ciências sociais, tive de levar a cabo o meu projecto por conta própria. Daí ter de arranjar este part-time.

Funcionamos com comissões sobre as vendas, e auditorias que levam a penalizações. Só ganhamos as comissões se atingirmos 75% do que considerarem como objectivo para aquele mês. No mês passado, tive bons resultados e a muito custo, acreditem, como vocês também já devem perceber.

Passados dois dias de ter sabido do valor da minha comissão, fui auditada, num padrão suspeito, por ter dito algo que consideram um erro grave. Aliás, erro este que não sabia que era erro, e que tenho vindo a cometer nomeadamente em telefonemas cujas auditorias estão na faixa dos 90%. Já tive uma auditoria a 100%. Curiosamente, nesta última, imaginem qual foi a minha penalização: – Todas as comissões das vendas ao longo do mês de Janeiro! Se por um lado sou pressionada para vender, com as formas mais rocambolescas, por outro deram-me este prémio pelo bom desempenho.

Somos números, e descartáveis. Nojentos, estes impérios corporativistas que nos tratam como lixo. É o “se não fores tu é outro”…todos somos substituíveis, precários…Que futuro será o da nossa sociedade?
Marta

“Um trabalho desgastante”

Aqui deixo também o meu testemunho. Sou assistente de apoio ao cliente na Optimus e faço full-time (8 horas por dia), sendo que pouco mais ganho que 500 euros e isto em full-time, repito, não em part-time.
É um trabalho muito desgastante e os clientes não têm, nem de longe, noção do quanto nos custa ouvir determinadas coisas sem que possamos responder – pois à mínima resposta menos simpática somos logo chamados à atenção por escutas constantes que nos fazem. É, sem dúvida, um trabalho super cansativo. Estou lá há oito meses e tenho andado extremamente cansada e em stress.
Também sou licenciada, mas num país sem trabalho temos que nos sujeitar ao que há e acreditar que iremos ter, num futuro, um trabalho melhor e mais gratificante.
Sandy


Comentários dos leitores

Cecília 7/2/2010, 13:19

Entrevista a Christophe de Dejours
"Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal"
http://www.publico.pt/Sociedade/um-suicidio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal_1420732

temporário 11/2/2010, 12:28

Também conheço essa realidade.
Se as pessoas - muitas delas - são universitários devem ter capacidade crítica. Porque não fazer textos que expliquem - fazendo uso dos conhecimentos que se tem - a actual situação.
Há uma explicação! Tudo resulta de um processo "empírico"...
O cliente é a razão de existir da empresa e os colaboradores são o recurso mais valioso, afirmam. Como há recrutamentos com formações de 10 dias e as pessoas não aceites não recebem nada?

ana 11/4/2011, 23:05

tb eu trblho num call center da tmn, e realmnt sinto q ninguem faz ideia doq é trabalhar la. das coisas q ouvimos dos clientes, da forma como nos tratam, e ainda o q ouvimos dos superiores so pq naquele dia n conseguimos vender nhm serviço.
simplesmnt n tem ideia doq é tar 9 horas, sim pq sao raras as x q faço 8h, a ouvir cl a lamentar as suas vidas e a despejar a furia sobre nos so pq n cnsegue enviar sms.
sou tb licenciada, e tenho uma serie de adjectivos q conseguem definir o meu estado psicologico neste momento, mas resume.se em exaustao.
e apesar de falar 9 horas p dia sinto q n estou a ser ouvida e pior ainda sinto q o nosso trabalho n é digno nem ninguem se intressa e mt menos fazem ideia doq é trblhar num sitio como estes, em q trblhams fins de semana, sim pq so qm esta la a mais de 3 ou 4 anos é q tem direito a fins de semana e a um horario diurno, n sabem o q é trblhar no dia de natal, na vespera de natal e todos os feriados, pq nem isso é rotativo. ha mt trblho precario, mas sem duvida q este é um dos piores.
fica aqui o meu desabafo


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