Grécia insurrecta

Manuel Raposo — 11 Dezembro 2008

greciamotins.jpgDesde sábado, dia 6, milhares de manifestantes vêm protestando contra a polícia em mais de uma dezena de cidades da Grécia, e até fora do território grego, nas representações diplomáticas em Londres, Berlim e Paris. Centenas de lojas, agências bancárias e viaturas foram destruídas ou danificadas com pedras e bombas incendiárias em todo o país. Esquadras de polícia foram atacadas. Dezenas de polícias foram feridos. A indignação generalizada contra as forças repressivas cresceu poucas horas após o assassinato pela polícia, em Atenas, de um jovem de 15 anos, Alexandro Grigoropoulos.

O funeral transformou-se igualmente numa grande manifestação de protesto, com mais de 2 mil pessoas presentes no cemitério. Professores e estudantes encerraram as escolas e desfilaram, juntamente com pais, numa manifestação em Atenas. Entretanto, os sindicatos levaram a efeito uma greve geral de 24 horas no dia 10, juntando os trabalhadores aos protestos.

Os protestos explodiram desta maneira generalizada e violenta em reacção à política de direita levada a cabo pelo governo de Costas Karamanlis que, tal como entre nós, é marcada por casos repetidos de corrupção, ataques aos direitos dos trabalhadores, alteração para pior do regime de pensões, privatização de serviços públicos. Em consequência, 20% dos 11 milhões de gregos vive abaixo da linha de pobreza, 8% dos trabalhadores estão desempregados e entre os jovens de 20 a 25 anos o desemprego atinge quase os 23%.

Atribuídos sobretudo a “jovens anarquistas”, os protestos espelham de facto a revolta da população grega, que assim se manifesta farta da política de Karamanlis. Pressentindo que não iria debelar os protestos facilmente, o governo fez um apelo à oposição para, juntos, encontrarem uma resposta para a crise. Num primeiro momento, o PASOK (Partido Socialista), a maior força da oposição, exortou os manifestantes a pararem a violência e a criticarem o governo de direita, numa tentativa óbvia de capitalizar os protestos. Mas, diante da persistência e alastramento da revolta, a oposição teve de rejeitar as propostas de “união nacional” feitas pelo governo, passando a exigir eleições antecipadas.

Classificando os manifestantes de “inimigos da democracia” e de “extremistas”, o governo indignou-se também com o facto de as duas principais centrais sindicais terem marcado uma greve geral, decisão esta que reforçou os protestos de rua com a paralisação dos trabalhadores. A Grécia parou mesmo por 24 horas e uma grande manifestação de trabalhadores teve lugar em Atenas.

O argumento do governo de que “não deve haver confusão entre a luta dos trabalhadores e a morte do jovem” caiu, assim, em saco roto. Na verdade não há nenhuma confusão – há sim ligação e solidariedade.


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