Eh pá, despediram o Mourinho…

Eugénio Silva — 3 Outubro 2007

Aquele russo tem má pinta. Sempre achei. Despediu o Mourinho. Mal ouvi, agarrei-me ao ecrã. Estou desempregado, sobra-me tempo. Todos os canais a falar do caso o dia inteiro. E nos seguintes. A maior parte do tempo não diziam nada, mas íam falando, falando. Sempre distrai. O homem merece que falem dele. Ao menos com ele fazemos boa figura. É o nosso Portugal lá fora. Nosso…OK, o deles, mas não faz mal. Se não forem eles quem fala de nós? Também me chateia o castigo ao Scolari. É outro que puxa pela malta: a bandeira, o hino, a senhora de Fátima. Mas o Mourinho mexe mais comigo. A SIC mostrou a casa dele. Um luxo, com colunas na entrada. Salas para tudo. Um grande jardim muito bem tratado. Carros, vi eu um Mercedes e um BMW. Pelo menos. E agora ficou desempregado, também. E não se sabe para onde irá. Com a indemnização vai aguentar-se. Mas é sempre um choque. Vejo por mim. Dizem que vai receber uns 30 milhões. Não sei se de euros ou de dólares. Ou da moeda inglesa. Seja o que for, é upa upa cá nas minhas contas. Nenhuma televisão falou muito disto. De como é que eles chegam a ganhar estas maquias. De como é que o russo, e os outros, arranjam este dinheiro todo. Melhor assim. Doutra vez os miúdos perguntaram-me porque é que eu não ganhava uns milhões também. Respondi-lhes que isso não é para todos. Porquê, pai? Ora porquê…Sei lá. É assim. Não me chateiem. Desta vez foi o Orlando. Muito bom rapaz, mas nestas coisas é um chato. Só lhe disse: o homem ficou desempregado, já viste? Vira-se para mim: ai tens pena? Olha mas é p’ra ti, posto na rua sem um chavo. Vê lá se falam de ti… E mais isto e mais aquilo. Ó pá, ó Orlando, lá estás tu… Olha, enquanto falo disto não penso noutras coisas. Mal dormi, com a conversa do Orlando a atazanar-me.


Comentários dos leitores

Marcelino Carreto 10/4/2010, 15:15

Creio que o orgulho de ser português não tem fundamento. Se ficamos contentes com o facto de algum treinador, politico, desportista, homem de negócios, ou alguma outra pessoa ter sucesso lá fora, devemos também interrogarmo-nos se, de um modo geral, ou seja: por aquilo que somos no aspecto social, económico ou politico,também somos dignos de registo. Digo isto porque,penso que podíamos hoje estar ao nível dos verdadeiramente grandes da Europa e do mundo, enquanto que continuamos a ser vistos lá fora como os eternos pequeninos. As pessoas mais «bem formadas», e que assumem os comandos do país, têm bons ideais, mas só antes de estarem em cargos de poder; depois disso,facilmente se deixam corromper,...digo mais, são até capazes de se vender como a mais barata das prostitutas.


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar