Pobres, nem a pão e água

Manuel Raposo — 4 Julho 2008

pao.jpgNos últimos dois anos, o consumo de pão pelos portugueses baixou de 30%. Só no ano corrente a quebra foi de 20%. Os dados, fornecidos pela Associação das Indústrias de Panificação, traduzem uma pioria absoluta das condições de alimentação das camadas mais pobres da população, uma vez que aquela quebra não corresponde a uma substituição de alimentos – os portugueses mais pobres, que já comiam pelo mais barato, agora comem cada vez menos e pior.

Por outro lado, o Tribunal de Contas descobriu que a empresa pública Águas de Portugal teve um prejuízo de 24 milhões de euros em 2006 e um prejuízo acumulado de 75 milhões de euros entre 2004 e 2006. Além disso, deve à banca 1.700 milhões de euros. Parte dos prejuízos (61 milhões de euros) resulta, diz o TC, de uma aposta falhada de internacionalização, dirigida para o Brasil e Cabo Verde.

Apesar disto, naquele mesmo período a empresa não deixou de dar prémios de incentivo aos administradores (2 milhões de euros) e de adquirir viaturas novas (2,5 milhões de euros).
Assinala ainda o TC que existe um “desvio tarifário” que atinge 60 milhões de euros. Dito de outra maneira: o valor atribuído à água vendida é superior ao preço cobrado aos consumidores.

Diante destes factos, o TC propõe duas medidas imediatas: “reestruturar” o grupo Águas de Portugal e “regularizar os desvios tarifários”. Quer isto dizer que estão criadas condições tanto para avançar para a privatização das águas – ambição que os grandes grupos capitalistas não escondem – como para subir as tarifas, fazendo pagar aos consumidores os défices crónicos de uma gestão “pública” que parece ter a finalidade de mostrar, também aqui, que privado é que é bom.


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