As preocupações do dr. Soares

Pedro Goulart — 31 Maio 2008

Em artigo de opinião publicado no Diário de Notícias de 27/5, Mário Soares, antigo primeiro-ministro e ex-presidente da república, diz-se chocado e entristecido por Portugal aparecer na cauda dos 25 países da União Europeia quanto à pobreza e às desigualdades. Soares diz que somos o país da UE “socialmente mais desigual e injusto, ombreando com a América de Bush”. Com esta opinião certamente muita gente estará de acordo.

A alguém mais distraído pode parecer, contudo, que este não é o mesmo dr. Soares (ter-se-á arrependido?) servidor das multinacionais e do FMI, que “meteu o socialismo na gaveta”, que dirigiu o bloco central entre 1983 e 1985, cujo governo trouxe mais pobreza e repressão aos trabalhadores e ao povo português, sendo então habituais, particularmente na península de Setúbal, as manifestações com as bandeiras negras da fome.

Claro que continua a haver quem, por opção de classe ou por ausência de espírito crítico, se deixe embalar pelas proverbiais cantilenas do dr. Soares, mesmo quando este gaba abertamente a obra do actual governo.

O antigo dirigente do PS, na parte final do seu artigo, depois de instar o governo de Sócrates a intervir prioritariamente na saúde, na educação, no desemprego e na segurança social, alerta para, caso não tenham em atenção estes seus conselhos, a possibilidade do PS perder (eis aqui o grande problema) votos para o PCP e o Bloco de Esquerda, salientando que esses votos (de protesto) muita falta farão ao partido em tempo de eleições. Por aquilo que bem conhecemos do percurso político do dr. Soares, não temos dúvidas de que é esta a sua grande preocupação – não que piore a situação dos trabalhadores, mas que o PS perca as eleições e seja afastado do poder.


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