Os bancos de dados electrónicos

João Bernardo — 11 Abril 2008

Na sequência do que fiz no número anterior do Mudar de Vida (MV5, edição papel), vou continuar a reprodução das principais informações contidas num artigo sobre vigilância electrónica publicado em The Economist de 29 de Setembro de 2007.

«De todas as vezes que alguém clica numa página da internet», lê-se nesse artigo de The Economist, «faz uma chamada telefónica, usa um cartão de crédito ou usa um cartão com microchip para ter acesso ao local de trabalho, essa pessoa deixa vestígios que podem mais tarde ser identificados. Milhares de milhões de bits de dados pessoais são diariamente arquivados, catalogados, analisados, comparados com outras informações e, em muitos casos, usados para estabelecer perfis que permitam prever comportamentos futuros. Por vezes as informações deste tipo são coligidas pelos governos, mas na maior parte dos casos são recolhidas por firmas privadas, embora muitas vezes estas firmas sejam obrigadas a pôr aquelas informações à disposição da polícia e de outros órgãos governamentais que as requisitarem».

Têm sido desenvolvidos modelos matemáticos destinados a tratar este enorme volume de informação, com um duplo objectivo: descobrir padrões de comportamento e prever comportamentos futuros. Mal tinham passado dois dias depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, um empresário norte-americano, Frank Asher, proprietário da Seisint, uma empresa de recolha de dados, decidiu examinar as informações de que dispunha sobre 450 milhões de indivíduos − é nesta dimensão grandiosa que operam as firmas privadas de policiamento electrónico − com a finalidade de detectar possíveis terroristas. Asher elaborou um modelo atribuindo diferentes graus de risco a cada tipo de nome e apelido, de religião, de viagens efectuadas, de preferências de leitura, etc., e terminou com uma lista de 1.200 suspeitos, que entregou ao FBI. Verificou-se depois que cinco das pessoas envolvidas no desvio dos aviões constava daquela lista.

O êxito obtido por Frank Asher levou o FBI a usar o seu método para desenvolver o Multistate Anti-Terrorism Information Exchange, abreviadamente Matrix, com acesso a 20 milhares de milhões de informações, analisadas com o objectivo de prever quem poderá no futuro tornar-se um terrorista − ou, pelo menos, aquilo que o FBI e os seus congéneres consideram um terrorista. Entretanto, acabou de ser posta em funcionamento uma nova versão daquele modelo, o System to Assess Risk, abreviadamente Star, que usa informações recolhidas tanto dos bancos de dados públicos como dos privados. A este respeito, é interessante observar como a fronteira entre o policiamento realizado pelo Estado e a fiscalização efectuada pelas empresas deixou na prática de existir.

«A maior parte das pessoas não reflecte acerca da informação que está a fornecer quando usa os seus cartões de crédito ou os cartões de “fidelidade” de uma empresa, quando compra alguma coisa on line ou quando se inscreve para um empréstimo», lê-se no referido artigo de The Economist. «E geralmente também não faz ideia do destino que é dado a esses dados. As empresas não os usam só para direccionar mais eficazmente a sua publicidade […] Elas podem também “partilhar” os dados com a polícia, sem o consentimento ou sequer o conhecimento dos clientes».

Por seu lado, o Automated Targeting System, operado pela polícia de fronteiras dos Estados Unidos, atribui um grau de risco de terrorismo a quem entrar naquele país ou dele sair, o que significa que em 2005 cerca de 413 milhões de pessoas foram classificadas de acordo com aquele sistema automático.

O resumo das informações contidas no artigo de The Economist continuará nos próximos números.


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